minha solidão é funda construi-a escavando-a
com os punhos pelas camadas do tempo
com a avareza e a renúncia e a escuta do silêncio
depois descasquei-a com as unhas
até me serem por vezes suportáveis
as paredes vivas como a carne e o barro
até o vazio ser visão quase dizível
depois outra vez ser vazio
e por horas não saber que fazer
do montículo do meu coração
não faço nada com ele sugere-me
um amigo num sussurro de um livro
por sua vez partido entre outros que me fizeram balançar
julgando-me com menos amparo no mundo
eu que comi todas as migalhas para a segunda pessoa
até restar um cu de côdea eu sobre ela com uma perna
a outra incansavelmente no ar
roçada pelos pássaros
e também pelo murmúrio de um coletivo distante por que nutri
uma militância displicente
oh não se iludam o meu coração
é alto e vasto quanto baste
para se circular cá dentro
e bicar às portas igualmente amplas do peito
levo-lhe a mão e a queratina perfura-a
criou as condições ideais para o eco e o gorjeio