Saturday, July 12, 2025

asa cardíaca

minha solidão é funda construi-a escavando-a 

com os punhos pelas camadas do tempo

com a avareza e a renúncia e a escuta do silêncio

depois descasquei-a com as unhas 

até me serem por vezes suportáveis

as paredes vivas como a carne e o barro

até o vazio ser visão quase dizível

depois outra vez ser vazio

e por horas não saber que fazer

do montículo do meu coração

 

não faço nada com ele sugere-me

um amigo num sussurro de um livro

por sua vez partido entre outros que me fizeram balançar

julgando-me com menos amparo no mundo

eu que comi todas as migalhas para a segunda pessoa

até restar um cu de côdea eu sobre ela com uma perna

a outra incansavelmente no ar

roçada pelos pássaros

e também pelo murmúrio de um coletivo distante por que nutri

uma militância displicente

 

oh não se iludam o meu coração

é alto e vasto quanto baste

para se circular cá dentro

e bicar às portas igualmente amplas do peito

levo-lhe a mão e a queratina perfura-a

criou as condições ideais para o eco e o gorjeio

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