Saturday, December 28, 2024

In Memoriam


à Mariana Branco, que me ensinou  

a posição da árvore e outras 

espiritualidades a consolidar

 

Apontadas ao vazio, as nossas rótulas

paralelas a uma linha imaginária 

entre os olhos e o longe — há que arredondar

o irracional infinito — mostravas-me

como elevar a zero a coluna, raiz

 

das dez mil coisas, em que palavras

tombam, espelham, espalham.

Palavras, sobretudo as viperinas

que propagam. Deste-me o talismã

espanando o ar entre nós: Retira

 

era o que dizias, diluindo injúrias

de tolas brigas numa razia de sílabas

átomos, minutos, num ápice limpos.

Pior era a magia de anular o ácido

da ferida que sempre mais incide

 

contra nós... morde como formiga.

Disseste-me que nenhuma se deve

— Amiga —matar (por mais pequenino

o crime), que a formiga se põe a andar

com casca bolorenta de citrino

 

que a língua sarrenta revela o karma

do assassino. Treinaste-me a rodá-la

com a saliva na barriga; que afinal

se ascende, se cede, sem ondas...

de onde (será certo?) esse destino

 

para que foste cedo, insanamente hirta

tu, que sorrias tão profusa, devolverás 

ao céu — ao pó, ao nada (e eu aceito?

e isso prova que venceste a foleirice

da imagem? deste plano?) — tua luz dourada.

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