Monday, January 19, 2015

MC


i. caverna

Esta banda de chapa que não quebra,
o meu diafragma ­— por isso tanto
custa estender um verso ao vento.
Por isso tudo é húmido cá dentro.

Esta prótese que trago pela carne,
minha contracepção — por isso é
que me falta sempre ar e esta merda

não dá broto nem caroço não ar-
ranca não passa de garganta

ii. banda de chapa

Posso batê-la ao sol e surpreendê-la
a faiscar. Não posso não cegar.
Posso, porém, dar cabo de pensar
em mim e me engasgar de azul
à janela
de tanto mirrar olhos e goela

e os pulmões. Posso sair à praça,
dar preço a estes órgãos, perceber
que a minha classe é a burguesia
fora do prazo que os respigas vão
escolher? Nessa parte eu seria
trocada de deítico. Nós os furas,

nós os forasteiros, nós os não-lugar

nós patifes, nós os Chão do Loureiro

que se plantam no fecho do Lidl
para apanhar

nós raid rupestre, hodierna tribo
com nossas narinas de utopia
e caverna


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