Thursday, December 23, 2010

Etílio Barroco


Que eu, dizias, agendava êxtases
à sexta-feira, às vezes quinzenais,
cumprindo ao resto as lides usuais
–– meu umbigo d’amiba com metástases ––

e hoje, rima fácil, só-li-dão
comigo me embriago e consinto
a garrafa de Grant’s já a um quinto
(o rótulo soletra a alit’ração)

chove fora viola o vento o vidro
o mundo nunca é como os prospectos ––
Embriagado deste rame recto

e reco do arame, oco coração,
ó turvo murcho músculo entupido,
mil vezes fosse a vida a excepção
.

Sunday, December 05, 2010

O Balde









E a magana da gata, arisca e fugidia
foi logo parir as crias
no sofá do arrumo onde ele tinha os papéis
(havia de se esquecer do último,
agora por lá anda o advogado
a tratar de escrevê-lo)
no sofá que a bem dizer não era dele
nem nunca ninguém usou
que comprou para impressionar os gaiatos
filhos dos meus enteados
(os que trataram do advogado):
bom couro, estofo fofo,
a vagabunda gata achou-o de agrado.

Foi isto dois dias depois que me fizeram
sair da minha casa com o meu filho pois, diziam,
não nos sabíamos governar depois que
segundo eles – (eu achei-o delgado
e pequeno o meu homem
a quem puseram tubos uma algália
e aquela máscara nas ventas
que não o deixava sossegar
e obrigavam-no a dormir nu
porque não gostavam que ele suasse

só lá fui uma vez onde o levaram
para prolongar a morte
onde nem me conhecia
não tinha dentes nenhuns
e o corpo naquela indecência
nem sei se me ouvia
toda a vida ele tinha sido uma árvore
mas voltou já vestido no carro preto
e depois fez-se a missa) –

não tínhamos condições para o resto da vida.
A mim calhava melhor ter ficado em casa
com o meu filho que tem problemas mas é esperto
e sempre demos conta do recado
mas disseram os enteados,
meios-irmãos do meu filho,
mais os netos e o advogado
que eu já não posso
e era melhor irmos para um sítio
a que querem que chamemos lar
e eu chamo asilo para os arreliar
que estou fraca e magra é verdade mirrei
que vivemos no campo demora a ver-se
alguém de longe se sucedia alguma coisa
ficávamos aflitos e ninguém nos acudia.

mas ia-se a ver onde ela tinha metido os bichos
ninguém dava sentido senão eu
e por isso me trouxeram eu vi
logo ao abrir da porta
e ao sair da gata disparada
pelo cheiro
deixei na cozinha o balde preparado
o sofá estava armado no arrumo
ao lado esquerdo do corredor
onde ele tinha os papéis
meti as mãos pelo buraco no couro
dentro da espuma dei logo com a pele
ainda sem pêlo engelhada e corredia
a chiar de olhos cerrados
um dois três quatro cinco seis
que embrulhei no regaço ainda cegos
e levei para a cozinha
para fazer uma coisa
que já fiz tanta vez
com a porta fechada que a mãe
andava coitadita a rondar
e ainda continuou nos dias depois
em que eu a vi muito magra
minhas mãos de velha na água
a forçar-lhes o cachaço para baixo
aflito pequeno delgado
até sossegarem
quando já não se mexem
não me custa assim tanto
não estão à espera desta
não têm governo para o resto é a vida
.

Friday, August 06, 2010

Woolf



Someone has blundered
alguém meteu o pé na argola
e tu és a óbvia suspeita
Likely it was you

a vida irremediavelmente enrolou-se
e agora não se endireita
in an impassable crux
Sobrevém, pois, irresistível, comoção
do fluxo
What are we to do against the summon of the swoon
O transtorno das águas o tocar o fundo
the swell of your backward burial
mergulhar em câmara invertida
como dizem que passa a vida
quando se abandona o mundo

mesmo que desejes ainda
parar
o gesto nada
vai mudar if you wanted to press stop now it’s too late
a água é densa turva provavelmente
gelada
and the stones are loaded dice
nos bolsos a escuridão dilui-se
lentamente
ice cold thick, there you stood, yet ever did you regret what you undertook?

Quiseste alguma vez um pouco
menos de talento
?

Saturday, June 12, 2010

Condições mínimas

Esta sarça é interdita a matilhas;
há que mudar a pele para comer
o fogo. Não que eu faça render
qualquer talento, ou tenha em vasilhas

semi-intactas ilustres maravilhas:
uma lista de coisas a fazer,
solidão, pedra de isqueiro, um revólver,
e um aparelho já com pouca pilha

e que só uso eu; a nós vontade
basta – e alguma luz: pede-se intensa,
mas sem que obste o brilho à entrega cega,

aceitas? compreendes? aguentas?

no nervo negro desta densidade
penetra só sentindo que sustentas
e me conténs quando eu me desintegro
.

Sunday, May 09, 2010

Gosto muito do meu macaco


toda a gente pensa que ele e so um peluche insensivel espicialmente é o M que diz isso. há muita gente que não acredita em peluche e pensão que esas pessoas são doidas mas as pessoas que não acreditam é que perdem.

Sunday, April 25, 2010

25 de Abril


sempre

(nem que seja para mostrar que este blog continua vivo, embora a precisar de assistência respiratória)

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