é altruísmo,
complacência
hubris ou satori
logo eu, aceitar
escrever
polidamente
versos a perfurar
o nervo do mundo
ter vaidade ou
servir
público de todas
as idades
(recearei, como
Brel,
definhar
baladeira
poetèsse pour des gens
finissants
se o que mais queria ser
era bela e sacana também
ao menos uma hora inteira)
sem contar com o
pó
que o meu ex me
tem
(corja do chá inglês, acento
de Oxford, fandango da BBC)
Antes marimbávamo-nos
para a salvação mansinha
tínhamos amor
absoluto
e desprezo bruto
tínhamos
precipícios
convenção abaixo
e fraternidade
acima
— ou
disso nos gabávamos
mas nem
pestanejaríamos
por seviciar uma
galdéria
em nome do
assunto sério
e radical da arte
Avante, como se
queria,
e tanto que se
balança
num castelo
assombrado
por fantasmas desses
dias
nossos corpos —
não talhados
para os mútuos
lançamentos
às jugulares do
espírito —
ganhando bafio
como frascos
de sofrimento
azedo
e espessas
películas,
paralisados os
braços
pelos pulsos
luminosos
da líbido
Houve, sim,
igualmente primavera
em nossas vidas
paralelas
— traças fugazes
pairamos na
ascensão,
lepidópteros, de
que faz troça
a luz
Então escolhes os
copos
raspando das
ressacas
o oleoso rancor
repassando-me a tremura
das asas
— tive de espalmar
o teu torcido caráter
esfarelá-lo entre
páginas
de linhas más
feias, pequenas.
Então eis-me
chegada
a escrever polida
encomenda para a
BBC
— pena de inoxidável
aço, compromisso
burocrático,
sem zanga
obscena, faca
na ferida, pingo
sanguíneo —
estipêndio em
libras
e mínimo perigo
sem contar
que cínica
me havias de
achar, meu doce
amante hypocrite
devasso leitor
que eu não desdenharia
seviciar
pelo meu verso
perfurante.