para Rita von Hunty
Nós que colocamos o amor, peso
sobre liquidez, flutuante incêndio
ou ilha-archote entre flanelas
inflamáveis, à mercê do amado—
seremos todas nós pessoas filhas
pelos pais destratadas? Nós
que fazemos planos de inundação
do outro, afogamento próprio, não
pregamos olho, vigias do alheio
ansiosas, arquejantes de afã
e desvelo, de insano receio
de abandono, fomos abusadas
na infância só que o ignorávamos?
Ou eram nossos pais iludidos
e mentíamos à fotografia
a pedido: "sorri, beleza" e cada
um ia à sua vida? Ou só há
infância antes de se articular
a tristeza? Ou se calhar estávamos
ali irradiando no muro estreito
sobre o tanque grande circular que
fazia as vezes de piscina e, como
as pedras, víamos tremelicar
na água a nossa outra cara, séria?
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