Monday, March 20, 2023

Senhora Dona Não-Sei-Quê

para a Ana Luísa Amaral

 

 

Pouco dona da casa embora a trate

não sei defender-me de homens nem 

de mim salvar-me por escrito porém

busco placar ruído ao que se parte

 

mesmo que falhe nisto: consolar-te

o susto (a filha ainda tem no dedo

um vidro onde o sangue à luz não veda).

Não sei aspirar Deus como Descartes

 

nem na floresta negra ver o todo

ou ser além de certas folhas—sei

lá. O estilhaço brilhará no iodo

 

deixado ao ar. Desconvencer o ser

das coisas é mister do poema e

cabe-nos o restauro das pequenas.

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