a mãe que castigava por igual
perdoava a diferença
quanto mais imensa a mãe
e a mão tremendo
menos pesaria o mundo
entregue aos meus pensamentos (Regina Guimarães)
Uma qualquer mulher
ainda não plena
sujeita poética
tem de encarar a mãe
e libertá-la de Electra
Passa-se a tragédia
entre fêmeas e atenas
mestiças, metecas, por regra
e o regresso secreto
do recalcado Orestes
é um fresco de batalha
numa parede:
soldados e marionetes.
Filha, não vês
que erro na revolução
são os braços de ferro
com todos mortos
todos maus ou ambos
no chão
a glória um banho
manchado onde não
se salva um órfão...
As sujeitas poéticas
gostariam de figurar
no retrato da história
brandindo muito os braços
como moinhos brancos
de trigo mouro
As sujeitas da história,
quando filhas
das sujeitas poéticas,
desarmam
a léguas a redondilha
dialética. Assim é difícil
desencaminhá-las
da desproporção entre
as cheias leviatânicas
e a beleza das ideias
Penso nisto quando elas
tomadas de causa
iradas contra a caldeira
da casa dos átridas
bloqueiam as artérias
da cidade
sob a ira das quadrigas
e penso em quando o petróleo
era como no Dallas:
brincava com o meu irmão
aos americanos e árabes
na idade do dólar
das séries
na inocência climática
da ciência
do dolo das espécies
Ocasionalmente com uma fronha
e uma bandelete a fazer
de hijab, o meu irmão
punha-me num lugar
de dependência.
E a mãe,
chamada pelo arraial,
franzia-se com a querela
e dobrava inflexível
a chinela por igual
perdoando a diferença
é difícil também
ver as filhas como rés
na nossa vez
Uma mulher obscuramente
filha é uma mãe aflitamente
mãe