a partir de Ghassan Kanafani
A minha argumentação é um documento; eu existo.
Aprendo isto de tanto ver o meu pai
sozinho à noite
traçando, retraçando
um mapa
da Palestina, a tinta verde.
Antes de 1947, insistia ele, antes do retalho,
antes da nação se tornar história
antes de a minha língua confundir agradeço com sobrevivência
antes de eu escolher uma profissão que destaca
a morte da minha gente.
Uma máquina fotográfica derrete ao sol.
De muito longe, escuto os cliques moribundos do obturador, os pregões clamorosos
dos jornais
que se atiram, o olhar cortante das órbitas.
Ergo-me diante do meu pai, as minhas próprias pupilas escancaradas
nos calos das suas mãos. Também eu desejo captar este momento,
retê-lo. Dizer, sim, esta violência é possível, e também dá prazer
olhar.
Mas quem é a audiência deste meu olhar
e até onde se espalha um flagelo
até amarelecer?
NOOR HINDI, in Dear God. Dear Bones. Dear Yellow, 2022, p. 6
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