Sunday, January 26, 2025

Canção da Manhã



O amor deu-te corda como a um relógio de ouro gordo.

A parteira bateu-te nos pés, e o teu choro calvo

Ocupou o seu espaço entre os elementos.

 

Nossas vozes ressoam, ampliando-te a chegada. Nova estátua.

Num museu ventoso, a tua nudez

Tolda a nossa segurança. À tua volta, brancos como paredes.

 

Já não sou a tua mãe, ao menos

Tanto como a nuvem que destila um espelho para refletir o seu lento

Apagamento à mão do vento.

 

Toda a noite a tua respiração de traça

Tremula entre as rosas róseas rasas. Acordo para escutar:

Um mar remoto move-se no meu ouvido.

 

Um choro, e tropeço da cama, vaca obesa, florida

Na camisa de noite vitoriana.

A tua boca abre-se limpa como um gato. O quadrado da janela

 

Esbranquiça e engole as suas estrelas baças. E agora ensaias

A tua mão-cheia de notas:

As claras vogais sobem como balões.



Sylvia Plath


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