mas independentemente disso gosto mesmo muito disto, à guisa de bom ano novo para os amigos:
Friday, December 28, 2007
Coping
Ficar quieta é técnica que já
aplico com rigor, e no preciso
sítio em que pulsa paraliso
tudo, quem está morto livre está.
Creio que começou quando cedeu
o avô. Alguém disse: afinal
o coração não aguentou. Eu
pensei: mais vale declinar o abalo.
Mas também não cheguei nessa altura
até ao fim. Escangalhei-me na novena
aos degredados filhos de Eva.
Iniciei-me então nos barbitúricos
e hoje passo bem melhor. Às vezes
é um jogo, em que recorro ao coito
antes da apanhada, e se esgoto
essa via, dedico-me à mimese,
diluo-me com os objectos, tudo
me toca mas nada dá por mim, tão
imóvel que me ignora a dor, não
há como acordar um corpo mudo.
Por exemplo agora que não veio
o homem, podia ter-me ferido
ou saído à busca de outro, e perdido;
mas pratico com vantagem a apneia
e a domesticidade. É pena
que me esqueça tanta coisa; foi
sorte saber da lamela – eia, pois,
advogada nossa – dormir serena.
aplico com rigor, e no preciso
sítio em que pulsa paraliso
tudo, quem está morto livre está.
Creio que começou quando cedeu
o avô. Alguém disse: afinal
o coração não aguentou. Eu
pensei: mais vale declinar o abalo.
Mas também não cheguei nessa altura
até ao fim. Escangalhei-me na novena
aos degredados filhos de Eva.
Iniciei-me então nos barbitúricos
e hoje passo bem melhor. Às vezes
é um jogo, em que recorro ao coito
antes da apanhada, e se esgoto
essa via, dedico-me à mimese,
diluo-me com os objectos, tudo
me toca mas nada dá por mim, tão
imóvel que me ignora a dor, não
há como acordar um corpo mudo.
Por exemplo agora que não veio
o homem, podia ter-me ferido
ou saído à busca de outro, e perdido;
mas pratico com vantagem a apneia
e a domesticidade. É pena
que me esqueça tanta coisa; foi
sorte saber da lamela – eia, pois,
advogada nossa – dormir serena.
Friday, December 21, 2007
Thursday, November 15, 2007
Encontrar-nos-emos todos
talvez se houver outra vida
em volta de uma mesa
a beber bebidas
na espirituosa retoma
dos mesmos enredos
da velha dor querida
em volta de uma mesa
a beber bebidas
na espirituosa retoma
dos mesmos enredos
da velha dor querida
Saturday, October 20, 2007
Mais uma Vez
Da Transparência
Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
Mas sufocado sonho
E não sabemos bem que coisa são os sonhos
Condutores silenciosos canto surdo
Que um dia subitamente emergem
No grande pátio liso dos desastres
Sophia de Mello Breyner
Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
Mas sufocado sonho
E não sabemos bem que coisa são os sonhos
Condutores silenciosos canto surdo
Que um dia subitamente emergem
No grande pátio liso dos desastres
Sophia de Mello Breyner
Sunday, October 07, 2007
da tradução
terei eu de facto o estofo
para um balanço preciso?
quantas vezes vou ao Outro,
quantas vezes sou Narciso?
para um balanço preciso?
quantas vezes vou ao Outro,
quantas vezes sou Narciso?
Friday, October 05, 2007
Monday, October 01, 2007
Wednesday, September 19, 2007
A Língua contra a Linguagem
Queria um homem que me queria. Comecei a dar-lhe nome, fugiu-me dos lábios.
Tuesday, September 04, 2007
Tresleitura e abreviatura: T. S. Eliot
Se me atrevo a comover o Universo:
ter refeito os trajectos todos
com colheres de café
será caso de prever
ou estimar um recomeço?
ter refeito os trajectos todos
com colheres de café
será caso de prever
ou estimar um recomeço?
Monday, August 27, 2007
reparação
Abraça-me, comanda nossa filha
do interior do sono. Eu desentendo.
Ela insiste. Aí desperto e rendo
amor ao riso que na sombra brilha.
Que quem connosco cresce a cada dia
se desliga. Também o seu pedido
mo ensina – pela discreta elipse
do olho que a tristeza me desvia.
E que isto é preciso acolher:
ilude o tempo os laços de um momento
de equívoco sentido, nó incerto.
Aqui, da solidão, este soneto
que embora nada possa demover
seria bom achar anuimento.
do interior do sono. Eu desentendo.
Ela insiste. Aí desperto e rendo
amor ao riso que na sombra brilha.
Que quem connosco cresce a cada dia
se desliga. Também o seu pedido
mo ensina – pela discreta elipse
do olho que a tristeza me desvia.
E que isto é preciso acolher:
ilude o tempo os laços de um momento
de equívoco sentido, nó incerto.
Aqui, da solidão, este soneto
que embora nada possa demover
seria bom achar anuimento.
Saturday, August 18, 2007
Sunday, July 29, 2007
Thursday, July 05, 2007
Wednesday, July 04, 2007
Friday, June 29, 2007
Tuesday, June 26, 2007
embora me seja incalculável essa harmonia da forma como ardia, gosto quando dela me socorro para atravessar o dia
TU DORMES
Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.
Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora, para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.
BARCOS
Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrido
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.
Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora, para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.
BARCOS
Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrido
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Thursday, June 14, 2007
Mutilação
Se por fora não pareço oca dentro
podre ao centro estou.
Sem querer armar-me em modernista tenho Alturas
em que experimento a lúcida percepção
quase materialista e táctil
do progresso da loucura
sou tal película sobre-
posta sobre-exposta,
precipitado cálculo de abertura -
aí o pânico a insónia eu cindida.
Só escrever me alivia um pouco
e dantes inclusive consolava;
agora é mais um corte
que sob a pele se exerce a prevenir
a coisa mais violenta que me pulsa na cabeça
e compulsivamente desta forma se escoa
mas não seca nunca estanca apenas se desloca.
E quanto disto não assenta na suspeita
de que me torno assim pior pessoa?
podre ao centro estou.
Sem querer armar-me em modernista tenho Alturas
em que experimento a lúcida percepção
quase materialista e táctil
do progresso da loucura
sou tal película sobre-
posta sobre-exposta,
precipitado cálculo de abertura -
aí o pânico a insónia eu cindida.
Só escrever me alivia um pouco
e dantes inclusive consolava;
agora é mais um corte
que sob a pele se exerce a prevenir
a coisa mais violenta que me pulsa na cabeça
e compulsivamente desta forma se escoa
mas não seca nunca estanca apenas se desloca.
E quanto disto não assenta na suspeita
de que me torno assim pior pessoa?
Wednesday, June 13, 2007
Beckett bis
Levanta os olhos para mim e diz se me podes ver, faz isso por mim. Eu torço-me atrás o mais que puder.
Tresleitura # 3: Beckett
Há tão pouco que uma pessoa possa realmente fazer. Faz-se o mais que se pode.
Saturday, June 09, 2007
Os Lugares Comuns
Quando o homem que ia casar comigo
chegou a primeira vez na minha casa,
eu estava saindo do banheiro, devastada
de angelismo e carência. Mesmo assim,
ele me olhou com olhos admirados
e segurou minha mão mais que
um tempo normal a pessoas
acabando de se conhecer.
Nunca mencionou o fato.
Até hoje me ama com amor
de vagarezas, súbitos chegares.
Quando eu sei que ele vem,
eu fecho a porta para a grata supresa.
Vou abri-la como o fazem as noivas
e as amantes. Seu nome é:
Salvador do meu corpo.
Adélia Prado
chegou a primeira vez na minha casa,
eu estava saindo do banheiro, devastada
de angelismo e carência. Mesmo assim,
ele me olhou com olhos admirados
e segurou minha mão mais que
um tempo normal a pessoas
acabando de se conhecer.
Nunca mencionou o fato.
Até hoje me ama com amor
de vagarezas, súbitos chegares.
Quando eu sei que ele vem,
eu fecho a porta para a grata supresa.
Vou abri-la como o fazem as noivas
e as amantes. Seu nome é:
Salvador do meu corpo.
Adélia Prado
Wednesday, June 06, 2007
Wednesday, May 30, 2007
Monday, May 28, 2007
Émulos
Foi como amor aquilo que fizemos
ou tacto tácito? – os dois carentes
e sem manhã sujeitos ao presente;
foi logro aceite quando nos fodemos.
Foi circo ou cerco, gesto ou estilo
o acto de abraçarmos? foi candura
o termos juntos sexo com ternura
num clima de aparato e de sigilo.
Se virmos bem ninguém foi iludido
de que era a coisa em si – só o placebo
com algum excesso que acelera a líbido.
E eu, palavrosa, injusta desconcebo
o zelo de que nada fosse dito
e quanto quis tocar em estado líquido.
Wednesday, May 23, 2007
Etiqueta
Não, mãe, eu não estou a comer com a mão como os porquinhos. Eu como com a mão como se tirasse estrelas de um prato.
Wednesday, April 25, 2007
Wednesday, March 28, 2007
Monday, January 29, 2007
Intervalo
Por motivos de força qualquer, e porque este blog raramente foi o que era. Com um bem hajam para os que daqui se foram lembrando e foram lembrados. Prometendo voltar, possivelmente noutro formato, a solo, em dueto, na conta que Deus fez, com mais cinco ou os que forem precisos. Sem impedimento de que voltemos aqui caso nos ocorra uma mensagem pertinente para o mundo. Até lá, por que não uma boa fita?
Friday, January 05, 2007
Thursday, January 04, 2007
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