Monday, May 25, 2009
Curiosa a tribo que formamos, sós
que somos sempre e à noite pardos,
fuzis os olhos, garras como dardos,
mostrando o nosso assanho mais feroz:
quando me ataca o cio eu toda ardo,
e pelos becos faço eco, a voz
esforço, estico e, como outras de nós,
de susto dobro e fico um leopardo
ou ando nas piscinas a rondar –
e perco o pé com ganas sufocantes
de regressar ao sítio que deixei
julgando ser mais fundo do que antes.
A isto assiste a morte, sem contar
as vidas que levei ou já gastei.
*
Sunday, May 24, 2009
poema-resposta
(a um poema de um poeta de expressão inglesa cujo nome não me lembro, que me foi dado ler aqui)
do outro lado de mim há a casa
que tenho procurado
em corpo dos homens
por uma vez, duas vezes (eu só
sei bem
quantas)
encontrei-a.
Foi quando consegui dormir com ela.
do outro lado de mim há a casa
que tenho procurado
em corpo dos homens
por uma vez, duas vezes (eu só
sei bem
quantas)
encontrei-a.
Foi quando consegui dormir com ela.
Sunday, May 17, 2009
Medicação
indicada contra a melancolia.
Alegria
Literatura inclusa.
Posologia: ao menos
uma vez
cada dia
.
Alegria
Literatura inclusa.
Posologia: ao menos
uma vez
cada dia
.
A menor arte poética
ao Rui Almeida
Não obstante o canto, se calhar
o que me agarra aqui é a textura.
Que faço no poema? Acupuntura,
o texto em vez do tacto, massagem
a mensagem
.
Não obstante o canto, se calhar
o que me agarra aqui é a textura.
Que faço no poema? Acupuntura,
o texto em vez do tacto, massagem
a mensagem
.
Saturday, May 16, 2009
Aniversário
Há tanto tempo eu
trazia um vestido curto nós
subíamos as escadas eu
à frente sem reparar deixava
as pernas ao desamparo do teu
agrado, tínhamos bebido ao meu
futuro e era uma fuga o teu
presente um disco que me deste
reluzia em semi-círculo e a nós
excitava seriamente escapar eu
fazia vinte anos tu
relanceavas-me as pernas eu
abandonava a adolescência
nem olhara para trás tu
miravas-me as pernas de trás. Nós
subíamos ao telhado eu
trazia um vestido curto nós
estávamos tristes creio tu
fingias-te um sátiro e nós
subíamos ao alto desarmados.
O tambor do sol batia
nos olhos que a luz e o álcool e a luz
e o álcool diminuíam
e os brancos raiavam o solstício
incandescentes eu
fazia vinte anos tu
tinhas-me dado uma música eu
rodava-a na mão e o sol
girava no gume do metal eu
no vestido curto descrevia
um círculo de desejo nós
estávamos tristes creio nós
tínhamos subido e a crista
das telhas beliscava na pele
petéquias de luz e tu
ao disco do sol dançavas e eu
de olhos cegos espiava fazia calor nós
tínhamos bebido e tínhamos calor eu
já tinha vinte anos nós
éramos o grande amor
.
trazia um vestido curto nós
subíamos as escadas eu
à frente sem reparar deixava
as pernas ao desamparo do teu
agrado, tínhamos bebido ao meu
futuro e era uma fuga o teu
presente um disco que me deste
reluzia em semi-círculo e a nós
excitava seriamente escapar eu
fazia vinte anos tu
relanceavas-me as pernas eu
abandonava a adolescência
nem olhara para trás tu
miravas-me as pernas de trás. Nós
subíamos ao telhado eu
trazia um vestido curto nós
estávamos tristes creio tu
fingias-te um sátiro e nós
subíamos ao alto desarmados.
O tambor do sol batia
nos olhos que a luz e o álcool e a luz
e o álcool diminuíam
e os brancos raiavam o solstício
incandescentes eu
fazia vinte anos tu
tinhas-me dado uma música eu
rodava-a na mão e o sol
girava no gume do metal eu
no vestido curto descrevia
um círculo de desejo nós
estávamos tristes creio nós
tínhamos subido e a crista
das telhas beliscava na pele
petéquias de luz e tu
ao disco do sol dançavas e eu
de olhos cegos espiava fazia calor nós
tínhamos bebido e tínhamos calor eu
já tinha vinte anos nós
éramos o grande amor
.
Wednesday, May 06, 2009
revisão da matéria dada
as pessoas mudam, e o amor é seu mais poderoso transformador, mesmo que nem sempre se possa garantir a irreversibilidade ou os benefícios de médio e longo termo das alterações produzidas
.
Sunday, May 03, 2009
Dia da Mãe
Já não sente este corpo, dói e come-
-se por dentro e é só cego animal
na oca luz do foco do hospital
pela qual a enfermeira sem nome
empurra as mãos como colher cavando
os muros do casulo de água duro
onde deves vir ao colo maduro,
mas és arisca e esquivas-te, nadando
a salvo do isco que te procura.
Até que a tua nuca desemboca
na minha boca, e ela te segura
com seus dedos hábeis, te desloca,
e por certeiro corte se desata
o nó da corda que de mim te aparta
.
-se por dentro e é só cego animal
na oca luz do foco do hospital
pela qual a enfermeira sem nome
empurra as mãos como colher cavando
os muros do casulo de água duro
onde deves vir ao colo maduro,
mas és arisca e esquivas-te, nadando
a salvo do isco que te procura.
Até que a tua nuca desemboca
na minha boca, e ela te segura
com seus dedos hábeis, te desloca,
e por certeiro corte se desata
o nó da corda que de mim te aparta
.
Subscribe to:
Posts (Atom)