O rigor do traço no volume demorado da carapinha,
o preênsil lápis manobrado pela observação
e esta por sua vez tentando controlar a impertinência
do precedente que enrola cada fio selvagem, que não nasce
como nada, desde o semblante humano, de espontânea criação.
A disciplina olho-mão é a liberdade do selvagem
e o realismo também outra tonalidade de metáfora:
molas de arame enérgico, a tremenda cabeleira indomável.
Não, nem todos os caracóis ondulam com a mesma tenacidade
ou direção, há até os destinados a morrer à míngua
de estrutura. O retratista, quando não estiliza, atende
a que nem toda a vida tem osso, apesar do excesso
apurado, da fragilidade retocada.
Colocamos linguagem e técnica, lentes e aros
sempre diante do ver. O rosto é uma coisa estrábica
onde espessura e clareza guerreiam e há irregulares
ovais onde loquazmente simbolizámos olhos
por uma emissão de lábios que o desenho deforma.
Nenhuma parte do corpo, porém, como a cabeça
segura tantos orifícios animais, e por mais que a beleza
seja da nossa responsabilidade como a limpeza e a luz
da pele, como a limpeza e a luz do traço no papel,
morreríamos incomunicáveis sem os nossos buracos.
O raro objeto, o sopro, a fome, o som, necessitam
feias fendas, alargados poros
.
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