Saturday, December 13, 2014

Lição de Marianne Moore




“Eu cá também não gosto, há mais coisas
além deste desconchavo”, dizia
da poesia. De resto, conseguia
ver mitocôndrias e as demais
pequenas vidas — olho fixo abrindo
na miúda mancha da aguarela
comprimida entre vidros de lamela,
redonda a pupila em maravilha
prévia ao mistério: saber o que era.

Mais importa observar ou designar?
Eu erro no olhar, receio, às vezes
esqueço a árvore onde deixei as chaves
e o caderno, depois não sei chamar
o quê, espécie ou parentesco, ache embora
sossego na língua arcana dos plátanos
atrás das placas do jardim botânico.
Portanto sirvo mal, sou outra, fora
do baralho, turista aqui e em tanto

do que me dá prazer e algum trabalho.
Mas não está dito ainda – ou está – se insisto
à minha pouca escala nisto eu
é porque não desligo e toco e falho
no genuíno material à vista,
língua crua clara em bruto céu.

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