Monday, January 19, 2015

JB

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Tambor, serrote, o cinzeiro roubado
por despeito de mal feito serviço —

agora à sua falta em torno isto
tudo do sofá arrastado à rua
e aspergido à mangueira pelo estofo —

agora ao canto à porta, precioso
na luz do vale que bate a sol posto.

E o amigo, recuperável fosco
regressará?
                   — agora que empeça
em alargar o perro pensamento

sem halo, hesitante e na certeza
da perspectiva que confere o objecto,
da vida o afecto
                           e extenso este
ao uso, à conversa, ao esquema ínvio
                                 da natureza



MC


i. caverna

Esta banda de chapa que não quebra,
o meu diafragma ­— por isso tanto
custa estender um verso ao vento.
Por isso tudo é húmido cá dentro.

Esta prótese que trago pela carne,
minha contracepção — por isso é
que me falta sempre ar e esta merda

não dá broto nem caroço não ar-
ranca não passa de garganta

ii. banda de chapa

Posso batê-la ao sol e surpreendê-la
a faiscar. Não posso não cegar.
Posso, porém, dar cabo de pensar
em mim e me engasgar de azul
à janela
de tanto mirrar olhos e goela

e os pulmões. Posso sair à praça,
dar preço a estes órgãos, perceber
que a minha classe é a burguesia
fora do prazo que os respigas vão
escolher? Nessa parte eu seria
trocada de deítico. Nós os furas,

nós os forasteiros, nós os não-lugar

nós patifes, nós os Chão do Loureiro

que se plantam no fecho do Lidl
para apanhar

nós raid rupestre, hodierna tribo
com nossas narinas de utopia
e caverna


NM


nós e a nossa imensa angst
em posição de feto
na cama de viagem
onde tudo balança
como quando
no ventre da baleia
como quando
se coze a bebedeira
e se destila o cheiro
e se desgasta a líbido
afinal foi fútil
termos vindo

se poupámos nos jantares
para pagar os livros
para aqui pararmos
para sucumbirmos
à ilusão da odisseia
a este quarto sem bagagem
incluído no pacote
da companhia low cost
que se foda
não é só mania
de deitar poias
ao raio da poesia

é que temos contas
a fazer com Deus
não te parece
com a sua bata branca
no hospital do céu
enquanto nós bestas
cheios de cornos
vagimos
pelo bafo plácido
da grande vaca quente
que pasta no abismo
não era nada preciso
termos vindo não
achamos como toda a gente


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