Aurelia Plath,
mãe, guardou entre os papéis
de Sylvia, filha,
um ruivo rabo de cavalo,
puxo de cabelo
cerce, ocorreu o corte
aos doze-treze,
prenúncio duma morte
com sequelas. A
angústia, uma tesoura
de ferro, escande,
mancha sobre os retratos
todos, mesmo o da
escola de arte, retrato
em três faces,
tetraedros, grude em papel
sobre exóticas
cores, vincos de tesoura,
talhado em
esfinge o longo rosto de cavalo,
e algo de Índia e
de karma, a má morte
que mãe alguma
aguenta suspeitar, o corte
quando afinal ela
era às vezes loura, o corte
quando tinha um
mundo aberto, e nos retratos
ninguém a diz
maluca, cortesã da morte —
de pequenina
enfiada entre os papéis
ou nos bosques
metida sobre o cavalo
Ariel, açulado,
as pernas em tesoura,
assente quadril,
livre rédea, tesoura
a toda a brida em
direção à luz a corta-
-mato, a filha um
só perfil com seu cavalo
em fogo e risco a
lembra Aurelia —há um retrato
também de
bicicleta e soquetes; os papéis
que ensaiou
proliferaram, mas a morte
foi onde teve
brio, Aurelia, ela jaz morta
e choram as
mulheres, a parca co’a tesoura
daria até uma
outra chance, outros papéis
se assim pudesse,
um mais humano gás, um corte
em falso, mas a
perda, mãe, face ao retrato
de antes não tem
cura, a dor é um cavalo
torrencial, a tua
filha é um cavalo-
relíquia inclemente da infância, a morte
é um mestre e
levou-te todos, nos retratos
permanecem, pai e
filha, uma tesoura
não aliviaria,
por generoso corte
que aplicasse, há
toda a sorte de papéis
e retratos, não
há raízes para a morte;
pousa a tesoura,
mãe sentimental que corta,
que faz um rabo de cavalo entre papéis?
que faz um rabo de cavalo entre papéis?
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