O pátio dá para os asseios da casa que a dona Aninhas aluga
aos verões, corre
água no duche, vozes de dois corpos, imaginamos
novinhos, turistas
daqui do Alentejo ou trabalhadores da estação
(percebe-se o
sotaque nestas bandas é o sol raso à ribeira
que decresce),
discutem o caso do momento — Isaías, madeireiro,
com o diabo do bagaço,
pregou uma surra na noiva, a GNR pôs cobro
a ele meteu-lhe ordem
de restrição, suave é a locução do banho:
Eh amor prometes que nunca me dás c’os pés?
arrepiando-se por
sinistra corrente da consciência, ele:
Prometo tu sabes que ando sempre agarradinh’a ti”
Onde outros se
enterneceriam nós tememos pelos que
se desavêm, pedimos
em surdina que nos provem o erro
e possam ficar
para lá do vidro martelado da janela onde
se ouvem pingando-se
afagos depois de mirrarem as peles.
Enquanto isso medimos quanto falta para o meio
da garrafa, nesta
idade vigiam-se excessos por medo de cancro
em zonas
melindrosas, da queima das ideias, duvidando se mais vale
a tristeza eufórica
do álcool à válvula da dor que fecha mal.
Montaram uma cadeira nas dunas onde fomos – banais
afinal –
deslumbrados absolutos. Sentámo-nos com a frustração
como mandam os
mestres da meditação no oeste. Louvámos
os elementos que
aliviam. Mas a respiração sobre o alto
da falésia
estarrece. São rodeios ao que não pode ser escrito.
Podemos escrever os amores, tontos, tortos, torpes
fazer odes,
elegias, sáficos troços sacrificados à grande dor de corno.
Podemos, quando se crê apesar de tudo, escorar o poema
de amantes
disponíveis para atear o entorno, tentando tanto
podemos escrever
a luz e as cinzas de um enlace com logros menores.
Não podemos escrever o pavor do descuido aos que daí vêm
depois (mas sim,
vai resultar, está quase a passar), a responsabilidade
é nossa, a
decisão deles, saberão ler, é natural, vão-nos cobrar
que se lixe, antes
isso – madeira,
madeira,
madeira – que morram
jovens pelos deuses que amaram.