Wednesday, July 01, 2020

Dois Verlaines para o Manel

GREEN

Eis os frutos, as flores, as folhas, os ramos
E este coração que só por vós desperta.
Não o despedaceis com vossas brancas mãos;
E a vossos belos olhos brilhe a doce oferta.*

Chego molhado ainda de orvalho em meu rosto,
E o vento da manhã o gela em minha fronte.
Deixai que o meu cansaço, a vossos pés deposto,
Se embale com o instante em que achará conforto.

Rolai minha cabeça em vossos jovens seios,
Deixai-a sossegar dos feios temporais,
Pois vibram nela ainda os últimos enleios,
E que durma um pouco enquanto repousais.



LANGOR

Eu sou o Império ao termo decadente
A ver passar os gigantes Bárbaros brancos
Enquanto escreve acrósticos indolentes
Forjados de ouro, ao Sol anémico que dança.

Sozinha, a alma sofre um enfado denso;
Lá longe, diz-se, há longas lutas sanguinárias.
Ó não poder, tão frágil, juras tão precárias,
Ó não querer florir um pouco a existência!

Ó não querer, ó nem poder, morrer um pouco!
Ah! Bebeu-se tudo! Bátilo, já não ris?
Ah! Bebeu-se, comeu-se. Mais nada se diz!

Só, poema deitado ao fogo, um pouco oco,
Só, escravo algo insolente, que vos ignora,
Só, tédio sem porquê, que mói e que demora.

*Creio que finalmente percebi, Manel, estes dois últimos versos são ímpares de métrica. Hei de rever. E tentar também emendar no que respeita a: "Não te esqueças que o Verlaine disse que não gostava das rimas assonantes."

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