Saturday, August 01, 2020

diga-se da palavra temporão

as dimensões da casa e das cartas
e ainda o fogo foi um esforço agarrarmos
as mãos aos jarros movendo
a frescura do líquido num humor
permeável e benigno, diga-se
os jarros ou as mãos, sanguessugas
no lodo como nós comunicando-se
diga-se: ser do lagostim, elevando-se
com vontade de bichos que se lambem

esvaziámos sacos, trazíamos os fatos
para o banho, as patranhas e o fervor
achando sucessivas divisões ancestrais
reencarnadas nos andares superiores
espíritos que éramos treinados
na livre associação
o plano movediço, instável, propício
a derivação conjunta
por sonhos contíguos fluviais suspiros
vazando, diga-se escotilhas da memória
atravessadas com tendões azuis, diga-se
golfinhos cometas do interior

não nos medimos mas tão pouco sarámos
fundámos ou dissolvemos, só repartimos
frutos púmices de textura redonda
e polidez de osso, sem ninguém
ter de contar, não seria um mau
início de conversa, mas não há
também que topar logo um sinal.
Aliás:  não sendo como se sempre
nos tivéssemos conhecido devagar
abrimo-nos tanto verde e sementes

máquinas plantadas para a escrita
eram concerto discreto repto
que tacitamente aprouve atrasar
em favor da tradução humana
diga-se que fazia um calor a luz
produzia singularidades apreciáveis
e a noite temperando o suspenso
tempo produzia álcool, a semi-lua
uma flecha, além de que longe
nos poupava e lembrava a nuvem
estancando a veia de um incêndio

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