cansada da poesia que morre a cada poema para voltar a morrer no próximo. Tem de haver outra coisa além de se descer ao inferno de suspensórios.
Saturday, April 30, 2022
Monday, April 25, 2022
Tresleitura
Questo seno darà buon latte alla nostra piccina
Alda Merini
será verdosa com carpas splashs limos libélulas
a piscina de amor a haver lá atrás
mau grado a efabulação as perdas
da idade do whisky das desoras da memória
dos melindres e das matanças à custa de uma ideia
ou a pago de armadores
Penso numa boia de líbido no fundo útero
e duas piscinas de criança a haver nos testículos
Seios que darão bom leite para a nossa piscina
praias a haver na maioria dos atos de conceção
e em todos os atos de folgar certas trilhas da ira línguas
de areia mínimos arquipélagos nós
e esse ser o esteio
quando penso nas filhas
que gostaria de estreitar muito embora
a ladainha para lhes tocar leve a dor
nem sempre surta
a incineração da dor dou
por mim a pensar
para elas e os amigos seremos como o pai de S.
em casa de quem também assim acampámos
vezes a ouvir vinis aspirações ressentidas de louros
dois dedos de azedume mais dois do tal whisky
outros tantos cubos de cântico
medida ao lado a água lisa
para dali sairmos mal
se separavam do céu os gomos do sol
e o rio se despia ainda às escuraspara depois da ressaca vociferarmos versos livres
sobre o poeta herdeiro que o futuro ilegitimara
e na verdade nos parecia bem mais para lá
do que para cá estávamos nós
o gangue dos ladrões de livros
a malta da alegria induzida
cool cheia de complexos os tais arquipélagos e só
nos faltava cuspir o fogo que todos nossos poros nervos engoliam
novos
e penso em S. quando vir que já tem (terá?)
Tenho a mesma idade que o meu pai quando
e haver de encontrar algo a que se agarrar
senão está tramado
mesmo que seja uma coisa pequena a da piscina
que seja o embaraço de então o gesto encovado no vago trajar
de passar-nos os livros com a dedicatória
Avisa-me quando achares que começo a parecer-me
sequer um bocado com ele ou isso ou o papel
que nem chegou a deixar a irmã que foi a primeira
num erro de cálculo entre a dor e a dose de neve a queimar
tão nova
na lamela de prata
que o pai de S. seguiu anos depois depois ultrapassando a janela
e tanto o sofrimento a jusante do amor
no farto seio
como se um chapão no vazio
que não sabemos o quê
que espécie
inventou os deuses e lhes deu a morte
novos
e já o texto vai longe da piscina verdosa dos peixes
da permacultura
da gozosa cópula
ou velhos que tacteemos
um corte de corrente um choque que nos devolva
à primeira tresleitura
após o aluimento lá atrás a prancha e a pique
olá ainda
de lodo e de leite
aí estás
a amorosa
do farto seio
*
Mas não começámos sequer a encarar
se se escreve para uma nostalgia a morte ou agora
à procura das grandes questões ou assentimentos
enleio empatia desvelos
afins
gostamos ainda de nos dirigir à beleza
a disfarçar o furo o halo o enxofrado bafo
de um generation gap cada vez mais fosso
o futuro uma fritadeira
cavamos e cavamos
já nos assam os cabelos
de Sulamite
já a paisagem rutila motores fumam marés levantam
o preço a que repetimos amor
numa linguagem convertível em estatísticas
para tradução automática e o comércio
das perguntas ao google
ainda que lhes gritemos
vamos juntas
será que iremos
a fundo
com nossas piccinas menores
a haver
e a voz delas distorcida
como num filme de Spielberg
a pedir o corte — 1.5
de emissões numa década lá atrás
bebés ainda há pouco o primeiro choro
a plenos pulmões e todos os poros convulsos de tão indevida
desvantagem no tempo
a haver
e por muito
impressionante então dizer
que fosse o nosso melhor