Monday, April 25, 2022

Tresleitura

  

Questo seno darà buon latte alla nostra piccina 

Alda Merini

 

 

será verdosa com carpas splashs limos libélulas

a piscina de amor a haver lá atrás 

mau grado a efabulação as perdas

da idade do whisky das desoras da memória

dos melindres e das matanças à custa de uma ideia

ou a pago de armadores

Penso numa boia de líbido no fundo útero

e duas piscinas de criança a haver nos testículos

Seios que darão bom leite para a nossa piscina

praias a haver na maioria dos atos de conceção 

e em todos os atos de folgar certas trilhas da ira línguas

de areia mínimos arquipélagos nós 

e esse ser o esteio

quando penso nas filhas

que gostaria de estreitar muito embora


no farto seio 

a ladainha para lhes tocar leve a dor

nem sempre surta

a incineração da dor dou

por mim a pensar 

para elas e os amigos seremos como o pai de S.

em casa de quem também assim acampámos

vezes a ouvir vinis aspirações ressentidas de louros

dois dedos de azedume mais dois do tal whisky

outros tantos cubos de cântico

medida ao lado a água lisa

 

para dali sairmos mal

se separavam do céu os gomos do sol

e o rio se despia ainda às escuras

para depois da ressaca vociferarmos versos livres

sobre o poeta herdeiro que o futuro ilegitimara

e na verdade nos parecia bem mais para lá

do que para cá estávamos nós 

o gangue dos ladrões de livros

a malta da alegria induzida

cool cheia de complexos os tais arquipélagos e só

nos faltava cuspir o fogo que todos nossos poros nervos engoliam

novos

 

e penso em S. quando vir que já tem (terá?) 

Tenho a mesma idade que o meu pai quando

e haver de encontrar algo a que se agarrar

senão está tramado

mesmo que seja uma coisa pequena a da piscina

que seja o embaraço de então o gesto encovado no vago trajar

de passar-nos os livros com a dedicatória

 

Avisa-me quando achares que começo a parecer-me

sequer um bocado com ele ou isso ou o papel 

que nem chegou a deixar a irmã que foi a primeira 

num erro de cálculo entre a dor e a dose de neve a queimar

tão nova

na lamela de prata

que o pai de S. seguiu anos depois depois ultrapassando a janela

e tanto o sofrimento a jusante do amor

no farto seio

como se um chapão no vazio

 

que não sabemos o quê

que espécie

inventou os deuses e lhes deu a morte

novos

 

e já o texto vai longe da piscina verdosa dos peixes

da permacultura

da gozosa cópula

 

ou velhos que tacteemos 

um corte de corrente um choque que nos devolva

à primeira tresleitura

após o aluimento lá atrás a prancha e a pique

olá ainda

de lodo e de leite

aí estás

a amorosa

do farto seio

 

*

Mas não começámos sequer a encarar 

se se escreve para uma nostalgia a morte ou agora

 

à procura das grandes questões ou assentimentos

enleio empatia desvelos

afins

 

gostamos ainda de nos dirigir à beleza

a disfarçar o furo o halo o enxofrado bafo 

de um generation gap cada vez mais fosso

o futuro uma fritadeira

cavamos e cavamos

já nos assam os cabelos

de Sulamite

já a paisagem rutila motores fumam marés levantam

o preço a que repetimos amor

numa linguagem convertível em estatísticas

para tradução automática e o comércio 

das perguntas ao google

ainda que lhes gritemos

vamos juntas

será que iremos 

 

a fundo 

com nossas piccinas menores

a haver

e a voz delas distorcida

como num filme de Spielberg

a pedir o corte — 1.5

de emissões numa década lá atrás

bebés ainda há pouco o primeiro choro

a plenos pulmões e todos os poros convulsos de tão indevida

desvantagem no tempo 

a haver 

e por muito

impressionante então dizer

que fosse o nosso melhor

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