Wednesday, August 17, 2022

Sharon Olds


Torno a ler-te num aterro e destapo

num soluço o alçapão de mim;

a saliva de mistura com areia

e memória contorcida, vesga

de confuso incêndio, tantos anos 

 

de que falavas quando dizias

coisas impertinentes para o amor

ou perras aberturas, como na mãe

sob escrutínio, inepta, semi-filha?

a vulva descerrando o pai sempre

um penetra solar, um assassino

 

arquetípico – claro, como não

arder com tal incorrência em ira

de abuelos, penates, dos dueños

geradores, maria e jesus, seus

dois progenitores, a natividade

traficada, solene, porta-a-porta?

 

a santa arreganhando letras, lábios

nas cócoras de uma rapariga pu-

lando como uma fera ao ego torto

de eros consanguíneo, as confissões

todas e assim eu, em teus humores

manchei-me, conivente, eu medi-te

 

digitei-te e traduzi-te e lamento

do teu cofre ter tirado tão menos

do que preciso para ser da falta

salva, dizer uma palavra cheia

de ponta, enxofre, perdimento explícito.


Sharon Olds, America's Brave Poet of the Body ‹ Literary Hub

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