A arte de perder não custa dominar;
há tantas coisas que parecem decididas
a perder-se, que o mundo não pode acabar.
Perder quotidianamente. Há que aceitar
a falta das chaves, a hora consumida.
A arte de perder não custa dominar.
Depois treina-te a perder mais e sem parar:
nomes, e sítios, onde tinhas prometido
que ias; nem por isso há-de o mundo acabar.
Perdi o relógio da minha mãe, e – azar! –
a última, ou quase, das minhas casas queridas.
A arte de perder não custa dominar.
Perdi duas cidades, lindas, e, para somar,
duas terras, dois rios, e tantas despedidas
de coisas que faltam mas não causam pesar.
– Até perder-te a ti (a voz de troça, a xingar
que eu amo) não estou a enganar. É sabido
que a arte de perder não custa dominar,
embora pareça (escreva-se!) o mundo a acabar.
Oh, não, seja o que for o que for à excepção do amor
Diz: o mundo a acabar. (nota de Bishop para o poema)
Elizabeth Bishop
http://www.youtube.com/watch?