Tuesday, January 03, 2012

Democrítica


Mais tempo, admito, gasto a passar mal
por relativo amor e altivez
que a exercer política, e prezo
sobre o consenso o rasgo original,

herança doentia do burguês
de génio, que nega ser geral
o raio que trilhou seu ideal,

e deixa que o isente a lucidez
da rota rigorosa da unidade
além da sua esfera. Mais consola

levantar os óculos à verdade,
suspensa ao clamor mudo lá do fim
da literatura, onde não rola nada
excepto, além das massas, o sublime.

Precário verso, se o gesto
o não redime –
paira só na frouxa linha acima
dos meus ombros
onde ruo assolidária e sem assombros.

Agora, se descerem os médios
à rua e os verdadeiros pobres a gente
atenta e recíproca a encher de pulmões ar
canto atrito resistência e translação,
a derrubar ditas classes consumo e capital,
o cómodo sem afecto, a sôfrega avidez pateta,
e o que a todos sobre os ombros nos carrega,
aí então. além de sublime e ser poeta,
talvez mais do que busque eu dê entrega
.

1 comment:

Anonymous said...

Revolução pois!
Patrícia

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