Quando a vimos
pela primeira vez
pensámos que já
tinha morrido
- à nossa irmã –
não prevenindo
que seríamos o
que ela fazia.
Nas traseiras da
cidade ocupada
batendo à máquina
num quarto
cujas janelas
todas vedam
uma língua
alheia
à que nos habita
a beleza existe
como nunca na
desfiguração
moral, no desmaio
da esperança aleijada,
excessiva.
É-nos a língua estrangeira
cifra
e surto de
esquisito consolo.
A crueldade
existe
e não fomos nós
quem a inventou.
A luxúria existe
e não foi por
termos nascido
foi haver fome, incontidos vícios
blindados lábios,
cândido calor
embaciado, calar que nada
ouve, é a nossa irmã
que entra no bar
de casaco fino
e nós que não
prevenimos
o bruto penetrar
de corpos
os furos de chumbos
repentinos.
Quando a vimos passar
o vestíbulo
a entrar para o
banho, a descer
o vestido, a
exibir ao espelho
as nádegas de
escultura
soubemos a partir
daí
que a nossa mãe
era diferente.
O conflito
torce-nos
entre fofas
almofadas
uma brancura
insuspeita
uma aguda tortura.
Saímos para as
traseiras
do quarto, na
cidade
ocupada, arma de
brincar
na mão divertindo o dilúvio
no olhar, achando
o bom
velho senil
e a caridade existe
mas é assim.
Nós os anões aos
pinotes
procuramos o ar
Enquanto o
abandono
com pernas
esguias e claras
ao apito da
locomotiva
marcha nas
traseiras
a cidade despe-se
de membros válidos.
Nas traseiras da
cidade
no interior das
couraças
nos contentores
do degredo
vive-se a guerra, travam-se
as mulheres
com suas soluções
de rancor e
abrigo.
A infância trilha
a solidão
com os passos
precisos