Monday, May 18, 2020

milho (de Jan Wagner)

isto é um campo, nele te perdes
a brincar, com as sombras como hastes,
e as jardas ou os hectares
de campo, de vento, de vasto

da casa te apartam. é revolta
a folhagem, como se baralhássemos
cartas. logo, entre massas de astros
uma nova imagem: lebre à solta.

tu dormes. enrolado como animal.
isto é uma manhã. te alcança
o sol, com a tua sede rilhando

o crânio. sobre ti o colossal
vulto de onda que balança
ri, dentes de ouro arreganhando.


[Primeira tradução, praticamente sem assistência, do alemão - ok, há uma tradução inglesa que...  - e de um contemporâneo do camandro. Gosto muito deste poema porque ele é espantosamente igual à história repetida vezes sem conta, pelo meu pai, da sua primeira memória, aos quatro anos, entre a casa e o pai dele (meu avô), levando-lhe o talego aonde lavrava - substituindo, diz ele, "a folhagem do milho pela dos juncos e atabuas".]

No comments:

Blog Archive

Contributors