Monday, May 18, 2020

[na cabeça do sonho: viajar da maneira mais difícil]

Estacionava num mall duma universidade porque era só para ir à farmácia, mas saía pela porta errada, demorava a contornar, quando descobria o carro já lá não estava. O rebocador só o devolveria depois do bilhete de regresso para Portugal. Era preciso suborná-lo, bem como ao polícia da multa. O carro vinha pintalgado de vermelho e praticamente imprestável. Passava a viajar com um cabide com rodas. Mas não eram sítios muito interessantes que visitava. Ia de mercearia em mercearia e recebia sobras de graça pois só tinha uma nota muito alta e ninguém tinha troco para ela. Era árduo voltar para casa, o cabide às vezes desabava no meio da estrada, dobrava-se sobre si como triângulo de automóvel, o casaco da filha caía ao chão, os pães com chouriço ficavam esmagados no saco de papel ao fundo de onde estava, criava verdadeiros engarrafamentos de trânsito enquanto percorria as estradas com aquela espécie de algália.

No comments:

Blog Archive

Contributors