Sunday, August 21, 2022

Janela de emergência

quebra antes

que se exija um plano

de prestações de deveres de férias de escalada 

de violência

ou danos a terceiros

ou nos lesem ao apanhar-nos despidos e tocados

ou nos passe pela cabeça ser exemplo

contrapoder

ou símbolo ou eternos ou anteriores

 

antes

que demores teus olhos brilhantes na minha aparição

e eu não mais fugaz

imprevista entre 

monótonos um desleixo

entre meticulosos desça

na condição de antes

quebra

 

se te anuncio à noite meu mergulho no tanque 

semi-fluorescente espaçoso azul

nas traseiras de onde dançam os convidados da boda

esperando que vejas o desejo de que me sigas

no porte cerimonioso 

com que esfarelo migalhas no deserto

enluarada pela hipótese de isto ser perene

 

quebra

neste estado altamente inflamável

do mundo-mina fóssil esta paixão

antes que isto estoure

e termine numa questão de tempo 

aquém de agapé

ou outro escalão grego menos eufórico e efémero

ou seja cinza (e se for fértil?)

 

quebra antes

que te convide por uma trilha

entre penedos e quase extintas feras

e nativos sabedores da seiva e suas beberagens de selva

ou viagens entre estrelas regressivas

até quando eu a fonte e tu o fogo que germinam

no ingresso do universo 

e receio digas não

amo-te quebra

 

antes de me ser pesado rodar as pétalas 

constantemente para o teu foco

me seja impossível rimar pólen com éden

se alumiem os cometas do sofrimento

ou eu acumule rancor 

irrazoável pelo que falha

quebra

 

e vai

com a nossa queimada (ou se for arável?). 

Wednesday, August 17, 2022

Sharon Olds


Torno a ler-te num aterro e destapo

num soluço o alçapão de mim;

a saliva de mistura com areia

e memória contorcida, vesga

de confuso incêndio, tantos anos 

 

de que falavas quando dizias

coisas impertinentes para o amor

ou perras aberturas, como na mãe

sob escrutínio, inepta, semi-filha?

a vulva descerrando o pai sempre

um penetra solar, um assassino

 

arquetípico – claro, como não

arder com tal incorrência em ira

de abuelos, penates, dos dueños

geradores, maria e jesus, seus

dois progenitores, a natividade

traficada, solene, porta-a-porta?

 

a santa arreganhando letras, lábios

nas cócoras de uma rapariga pu-

lando como uma fera ao ego torto

de eros consanguíneo, as confissões

todas e assim eu, em teus humores

manchei-me, conivente, eu medi-te

 

digitei-te e traduzi-te e lamento

do teu cofre ter tirado tão menos

do que preciso para ser da falta

salva, dizer uma palavra cheia

de ponta, enxofre, perdimento explícito.


Sharon Olds, America's Brave Poet of the Body ‹ Literary Hub

Monday, August 15, 2022

Pátria

            a começar por Auden e a acabar com Adrienne Rich                       

Do sofrimento pouco nos 

enganamos

sobre seus mestres mas se

desvelos

temos e assistência lhes 

prestamos

com impotência de deixar de vê-los

 

morrer penso 

que espécie esta 

ao centro 

se é única a marcar combate

para “limpar a honra” (que é?) e 

parte

para um duelo como um sacramento

 

e escolhe padrinhos árbitros 

tércios

ternos laços luvas balas 

fuzis

e quantos passos alvos de

batalha

e calibrados danos de civis

 

(a jura da bandeira deferida)

se são armas seu maior 

comércio

se é a que mais morre a que 

mais mata

por coisas como um marco 

de país 

 

tua nativa terra, a tua vida.

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