Monday, October 26, 2015

O Gigante

para P. B.
para A. C.
para H. F.

Desculpem insistir pois não convém

manter a perda aberta e eu falhei

francamente na confusão da dor

que não soube distinguir entre amor

e aflição e se calhar ainda hoje

bato onde não têm de ouvir eco

que os versos nos subjugam e enganam

com pretensões crianças de um além

que não se verifica nem faz bem.



Absternha-se a emoção em circunstâncias

extraordinárias e desembrulhe-se

quem puder no embate do absurdo.

Despenhou-se, acabou, o resto é turvo

tudo; cabe estancar o que gangrena

se reincide a pena; ser sensível

não é opção de quem trava o gigante

com o arsenal que tem. Ponto final.



Parágrafo. Adenda. Eu disse, volto

após rodeio grande ao que perturba:

doeu a orfandade, doeu não

ter cuidado com ele e ele

não nos ter lembrado. Mas há mais

que isso — lidou com coisas que supomos

mal e nós admirámos sempre aquilo

que ele era capaz de conceber.



Quero-vos; não me julguem por escrever,

receie embora que dar forma a isto,

se parece que sara, no fim mude

pouco ou ainda para pior
.

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