A tua bicicleta é o terreno que os locais cultivam nas traseiras
As traseiras da tua casa dão para uma barreira clara
A casa acolhe em novembro as
pinhas no fogão em maio as papoilas e a época inteira uma promessa de mar
As pinhas estão entre a terra e o
fogo as papoilas cozem sementes que são escuras e curtas entre o feno que se
ceifa no verão a foice está entre a morte e o pão o mar está entre a barra
pintada aos pés da casa e o céu
O céu tem carradas de espécies de
aves entre si e a lagoa
A lagoa borrifa os arrozais onde
descem as aves e alguns gatos bravos espantam as traças
As traças são catalogadas com
nomes por curiosos de frontais e máquinas fotográficas
As fotografias não fazem justiça
à noite entre as traças e as estrelas
As estrelas são escorraçadas
pelos frontais que atraem as traças
Tudo isto é circular e há ainda
melgas aos milhares que mordem os clientes que não sabem que o sol cai com
vingança no terraço entre o peixe no churrasco e a comida da Maria
A Maria faz muitas horas na cozinha
entre o cheiro a migas fritas e as arrelias entre o dono e as travessas que a
filha serve com arroz refogado entre os coentros e o caldo dentro das côdeas do
pão de cabeça
A cabeça quer ser clara como a
barreira atrás da casa
A barreira da casa é a norte o
vale a sul o sol a nascente o mar a poente
O Melidense fica mais à frente na
aldeia de quem sai para as praias
A praia que tu preferes são sete
quilómetros a pedalar na bicicleta e além dos arrozais há dunas de grosseira
areia onde passam só pescadores e tu entre os cardos as camarinhas e as acácias
rasteiras depois das piteiras e dos alemães e dos caçadores e dos seus cães
Há um marco geodésico que é o teu
destino e os cães atrás da bicicleta são um susto a aborrecer-te a solidão
desde que passaste o cemitério o vale e as areias com os traços de jipes e
cavalos e os pacotes e garrafas que acumula o tempo quase tudo tão deserto e
quase muito pleno
Do deserto vês o mar e penetras
primeiro os pés e o tronco depois do sexo a cabeça atrás e aí o roxo som a mansa
trepideira das ondas e das rodas e até o latir imprevisto em cima do destino e
entre o salitre e o feno e entre a morte e o pão e a natureza toda a morder-te
a atenção até o sono quando a luz declina faz-te falta por terreno