Monday, June 22, 2020

[na cabeça do sonho: golpes palacianos]

Quanto vale um sorriso? os dois ficámos contentes que se tenha acendido antes do catálogo dos mortos. Despertei com a frase vinda de um sonho distribuindo a memória por camadas de abandono. Haia um palácio pintado de mar que pertencera a antepassados teus e meus. Estava a fechar àquela hora em que o fomos visitar para os lados do Guincho. O caminho era uma vereda solsticial sobre planícies de atlântico. Éramos uma pequena excursão e quando lá chegámos alguns ainda puderam subir aos andares mais altos e até à torre panorâmica. Eu tive de desviar uma carteira da escola que estava a barrar a entrada e quase me entalou. O palácio também era às camadas, por várias épocas de construção, mas com o mar sempre por motivo, creio, vinha das aduelas das portas e janelas e dos mosaicos de tijolo de burro no chão. Reconheci alguns alçados de sonhos anteriores. No meio de um salão havia um tupperware redondo com as meias desirmanadas, minhas e da minha filha. Havia também a Remington que o meu tio-avô ressuscitado me autorizava a fotografar para pedir orçamentos de reparação – na verdade talvez só precisasse de tinta e a espessura da fita era de 5 cm. Íamos separar-nos dentro de dias e tu quiseste atalhá-los. O máximo de contacto foram os meus lábios descendo pela cordilheira das tuas costas em posição fetal. Despediste-te de mim e da minha filha, sem efusividade, foste descalço pela tal trilha de verde e poeira, e eu fitei nos meus pés as tuas sandálias de centurião.

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