Tuesday, June 02, 2020

Let America be America Again

Que a América seja a América outra vez
Que seja o sonho que antes se teve
Que seja o pioneiro na planície
À procura de casa pra ser ele próprio livre

(A América nunca foi a América para mim)

Que a América seja o sonho que os sonhadores imaginam---
Que seja essa terra de amor grandiosa e forte
Onde jamais os reis ou os tiranos congeminam
Onde nenhum homem seja por outro mais alto esmagado até à morte.

(É que nunca foi a América para mim.)

Oh que esta terra seja uma terra onde a Liberdade
Não se cante com falsa e patriótica lira
Mas seja livre a vida, real a oportunidade:
A igualdade está no ar que se respira.

(Nunca houve igualdade para mim
Nem liberdade nesta “pátria livre e sem fim”.)

Diz, quem és tu que murmuras nas trevas
E quem és tu que entre estrelas te velas?

Sou o branco pobre, enganado, pelas ruas da amargura,
Sou o negro que ostenta as cicatrizes da escravatura,
Sou o pele vermelha escorraçado da terra,
Sou o imigrante agarrado à esperança que procuro –
E que só acha o velho plano furado
Do cão que come o cão, do grande que calca o fraco.

Sou o jovem, cheio de força, esperando férreo
Emaranhado nessa velha corrente interminável
De lucro, poder, ganho, de agarra a terra!
De agarra o ouro! De agarra os meios para qualquer fim!
De utiliza os homens! De dá cá o pilim!
De abarbatar tudo por pura ambição!

Sou o lavrador, agarrado ao chão.
Sou o operário vendido à máquina.
Sou o negro, o criado da multidão.
Sou a multidão, humilde, faminta, medonha –
Esfomeada, hoje, ainda, apesar do sonho.
Batida hoje ainda – Ó Pioneiros!
Eu sou o homem que nunca chegou à frente.
O mais pobre trabalhador, esfalfado sempre.

Todavia sou aquele que sonhou o nosso sonho de base
No Velho Mundo, quando ainda servia Sua Majestade,
Que sonhou um sonho tão forte, tão genuíno, tão bravo
Que mesmo tremendo faz cantar
Cada tijolo e cada pedra, cada sulco a lavrar
E que fez a América tornar-se espaço-mito
Ah, eu sou o homem que sonhou esse primeiro mar
Buscando a ideia que eu fazia de lar
Pois sou aquele que deixou a escura costa da Irlanda
E da Polónia a esteva, e da Inglaterra o capim,
E que veio da negra África em bolandas
Para erguer uma “pátria dos livres sem fim”

Dos livres?

Quem disse os livres? Eu não?
Não posso ter sido eu? Os milhões no desemprego?
Os milhões alvejados quando fazemos greve?
Os milhões que não têm nada para nos pagar?
Por todos os sonhos que sonhámos
Por todas as canções que cantámos
E todas as esperanças que nutrimos
E todas as bandeiras que subimos
Os milhões que não têm nada para nos pagar
A não ser o sonho, hoje, especialmente, a acabar.

Oh, que a América seja a América outra vez –
A terra que nunca foi ainda
E contudo tem de vir a ser – a terra onde todo e cada seja livre
A terra que é minha – do pobre, do índio, do negro, de mim
Que fiz a América,
Cujo sonho e o sangue, cuja fé e o sofrimento,
Cuja mão na forja, cujo arado em mau tempo
Deve devolver-nos o grande sonho reincidente.

Com certeza, chamem-me se quiserem nomes feios –
O ferro da liberdade não enegrece.
Para os que vivem como sanguessugas dos alheios,
Temos de recuperar a nossa terra outra vez,
América.

Ah, sim
Digo alto e duro
A América nunca foi a América para mim
E todavia isto solenemente juro
A América há-de ser enfim!

Dos destroços e dos esgotos das mortes dos gangues,
Dos estupros, dos enxertos, da cara podre, dos rumos ínvios,
Nós, o povo, temos de resgatar
A terra, as minas, as plantas, os rios.
As montanhas e toda a infinita pradaria –
Ah todos estes estados verdes grandes a perder de vista
E fazer da América o que ela seria.

Langston Hughes, 1935, Let America Be America Again (tradução a limar)

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