Tuesday, December 13, 2022

Totem

 

A máquina está a matar a trilha. A trilha é de prata.

Estende-se no horizonte. Será comida não obstante.

 

É infrutífera a sua corrida.

Ao cair da noite há a beleza dos campos submersos.

 

A aurora doura os agricultores como suínos,

oscilando ao de leve nos fatos espessos.

 

Perfilam-se as torres brancas da feira do gado,

Com ganas de sangue e pernis suculentos.

 

Não há piedade nas centelhas dos cutelos,

Na guilhotina sibilante, o açougueiro: “Quer assim?”,

 

No alguidar aborta-se a lebre,

E já não estorva a cabecinha, toda temperada.

 

Esfolada do pêlo e da humanidade.

Comamos como a progénie de Platão,

 

Comamos como Cristo,

São pessoas que foram importantes —

 

Seus olhos redondos, os dentes, a carantonha,

Um pau que chocalha e estala, serpente de brincar,

 

Poderá o capuz da cobra espavorir-me—

A solidão de como olha, o olho das montanhas

 

Por onde passa eternamente o fio do céu?

No mundo o sangue ferve, levado a peito

 

Diz a aurora, com as veias abertas.

Não há terminal, apenas bagagens

 

De onde, como um fato, espreita a identidade

Velha, calva, lustrosa, com bolsos de desejos,


Noções, bilhetes, curto-circuitos, espelhos dobráveis.

Sou maluca, grita a aranha, e ondeia os muitos braços.

 

E na realidade é terrível,

Multiplicando-se nos olhos das moscas.

 

Zumbem como meninas azuis

Em teias do infinito

 

Cujo remate final cabe 

À única morte cheia de pauzinhos.


Sylvia Plath 

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