a partir da pintura de John Sargent “Paul Helleu a Desenhar com a Mulher”)
Ele rema sozinho, planta a madeira velha e lisa
ao de leve na corrente. Está fascinado
com o som da água apartando-se, com o sussurro
contra os flancos batidos do bote.
Ela contempla o céu, segurando contra o peito
o remo húmido; ensopa-lhe o tecido
e depois a pele. Já lhe passou o arrufo.
Agora está fria; a luta já não a alimenta.
Ele resmunga, “Contrariamos a ordem das coisas,
perdes constantemente o ritmo; andaremos
em círculos se não me deixas ser eu a fazer.”
Como pode ela responder a esta lógica:
“Sonhei que o fazíamos juntamente,
Vi-nos a deslizar com uma sensação
deliciosa — a escaramuça dos amantes.
Imaginei-nos a cortar assim a superfície
ou pelo menos a tentar e a rir-nos disso”?
Portanto, faz ele, e dá-se então o romance:
um crepúsculo lerdo de verão, a lua crescente
sobre a orla do pântano, a água
quase tépida, um vagar amistoso e soturno,
os chapéus de palha, as fitas vermelhas,
o casaco desportivo, a saia ampla,
a sacola das tintas e dos pincéis,
a panóplia de um piquenique,
o aprumo de um bote à deriva
por um lago plácido, as rochas
de sépia e estanho ao lado. E diz ela,
“Não, faz tu. Eu fico a ver.”
E ele pergunta-lhe se está feliz,
se aprecia a água, a vista;
se a sua paisagem, a aguarela
húmida de um arbusto esgalhado
lhe agradou, se gostou. Ela ouve
“Vieste-te?” e responde, de boa fé,
como sempre. “Muito agradável,
foste muito querido” — porque basta.
Ela segura o remo contra os seios,
o duro cabo a apertar um mamilo
ao ponto de lhe marcar a pele.
Kwame Dawes, da sequência Fishing (Na Pesca)