A nossa solidão é esta avenida decotada,
do passeio do acaso, do furtivo e escancarado,
artéria tantas vezes paralela ao coração,
onde ninguém serve a nenhuma arquitectura;
onde sobe a miséria do terminal do eléctrico
até à igreja fronteira à sopa dos pobres,
temporárias sentinelas armando cartões
nas fachadas das lojas, trastes e artigos
de ocasião (apanham-nos de dia noivos
investindo num projecto de família).
O nosso é este meio de solidão, que se carrega
de qualquer coisa que não é bem perpétua
atmosfera de névoa, nem sujidade, que também
é terna, pena suspensa (corvos de Lisboa, naus
gastas no chão), saudade, por que não, sentimento
de povo sem pátria em que descreio; crer
creio
nisto que na indigência e vício coexiste a gente
dá-se e da carência faz-se uma disciplina às claras
e por muito pouco desprende-se quase nada
que se tem
.
1 comment:
sim, já li e comentei! gosto do texto, mas cansa-me tanto desamparo...
Post a Comment