Saturday, December 13, 2008

Hafiz (em loop)

PEQUENINOS DEUSES

Dizem alguns deuses, os pequeninos,
“Eu não estou aqui, nos teus lábios vibrantes, húmidos
Que precisam de banhar-se sobre
A praia dourada de um
Corpo nu.”

Dizem alguns deuses, “Eu não sou
O anseio em ferida da alma não correspondida;
Eu não sou a face afogueada
De cada estrela e
Planeta –

Eu não sou o Regente aprovador
Dessas secreções preciosas que podem destilar
Todo o espírito numa jóia perfeita e cintilante, nem que por
Um só instante;
Nem resido em cada monte de estrume quente e doce
Que brota da gratuitidade
Da Terra.”

Dizem alguns deuses, os que temos de enforcar,
“A tua boca não foi feita para conhecer a Sua,
O amor não nasceu para consumir
Os reinos
Luminosos.”

Meus queridos,
Cuidado com esses deuses que os homens assustados
Criam

Para trazer consolo e anestesia
Aos seus tristes
Dias.

*

UMA NECESSIDADE PREMENTE

Por

Uma necessidade premente

Estamos de mãos dadas

E escalamos.

Não amar é largar.

Ouçam,

Por aqui o terreno

É demasiado

Movediço

Para isso.

*

DOIS CHARCOS À CONVERSA

Choveu durante a noite
E formaram-se dois charcos no escuro
E puseram-se à conversa.
Disse um,

“É tão agradável estar finalmente nesta terra,
E encontrar-te também,

Mas o que irá acontecer quando
O Sol resplandecente vier
E nos transformar outra vez em espírito?”

Meus queridos,
Aproveitem a noite o mais que puderem.

Para quê perturbar o coração com o voo,
Quando ainda agora chegaram
E o coração se vos aquece com tamanhos desejos.
E olhem:

Tantos prados de pêlos macios plantados
Sobre vós.

Para quê perturbarem-se com Deus
Quando Ele se abstém de julgar
E é tão gentil

A menos que sejam santos e íntimos
Do círculo
Do Perfeito Um?

*

AS GRANDES RELIGIÕES

As
Grandes Religiões são os
Navios,

Os Poetas os botes
De salvação

Todas as pessoas sãs que conheço saltaram
Borda fora.

Isso é bom para o negócio, não
Hafiz?

*

PEPINOS E PRECES

Todo o dia
A terra brada
“Ui, obrigada.”

Um ui tão exuberante
Que começa a atirar
Coisas.

Como se Deus passasse num desfile a incentivar
Os arruaceiros
Com aquele tão lindo aspecto –
Que atrai como mel uma avalanche inteira de maníacos!

Gosto desta ideia de atirar coisas a Deus
E especialmente – o fazer de nós arruaceiros!

Portanto, assim que salto da cama
Começo a encher grandes sacos
Com sapatos velhos, pepinos
E
Preces

Para o próximo
Evento de consagração

Aberto-a-todos
E sabe Deus
A que mais.

*

OS LINDOS JOGOS DO AMOR

Dizem sensatamente os jovens amantes,

“Vamos experimentar este ângulo,
Talvez suceda algo de maravilhoso,

Talvez três sóis e duas luas
Rolem
De um esconderijo no corpo
Que a nossa paixão ainda tem de acender.”

Dizem os velhos amantes,
“Podemos fazer mais uma vez,
Que tal desta longitude
E latitude –

Balouçando de uma corda atada ao tecto,

Talvez uma parte de Deus
Se esconda ainda num canto do nosso coração
Que o nosso afecto ainda tem de revelar.”

Conclusão:

Não deixem nunca de brincar
A estes lindos
Jogos
Do Amor.

*

OS SUBÚRBIOS

Só nos podemos
Queixar

Quando vivemos nos subúrbios
De Deus.

*

ÀS VEZES DIGO A UM POEMA

Às vezes digo a um poema,

“Agora não,
Não vês que estou a tomar banho!”

Mas o poema normalmente não quer saber
E replica,

“Paciência, Hafiz,
Nada de preguiça –

Prometeste a Deus que davas uma ajuda

E Ele acaba de inventar
Esta nova canção.”

Às vezes digo a um poema,

“Não tenho forças
Para espremer mais uma gota
Do Sol.”

E não é raro o poema
Responder

Subindo para a mesa de um bar;

Depois, levanta a saia, pisca o olho,
Fazendo com que todo o céu
Desabe.

*

DEIXA LÁ A RELIGIÃO

O que é que
Os tristes têm
Em comum?

Parece que
Ergueram um altar
Ao passado.

E vão lá muitas vezes,
E fazem um estranho lamento e
Culto.

Onde começa a
Felicidade?

Onde deixamos
De ser assim

Tão

Religiosos.

*

PROCURAR MELHOR EMPREGO

Se já

Está provado

Que tamanha

preocupação

É negócio

Que não rende,

Porque

Não

Procurar

Melhor

Emprego?

*

IMAGINO QUE AGORA POR MUITO TEMPO

Aconteceu
Outra vez
Ontem
À Noite:

O Amor
Rebentou a rolha de si mesmo –
Espalhou os meus miolos
Pelo
Céu.

Imagino que agora por muito tempo
Algo de mim
Há-de parecer

Que cai como
Estrelas.

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