pórtico
Com seu quê de kitsch e
delicado
de ossos, o Lopinhos
queria ser padre.
Pregava de pequenino com
avental
comovendo-se com
ladainhas, rosários
e depois foi tempo da
poesia, que lia
como mezinha, tónico
azedo de interiores.
Logo por ironia na
lancha Fé em Deus
havia de lixar a anca,
incrível desgraceira:
«ó meu amor antes fosses
ceguinha.»
corredor
«Era ao sair da
infância, eu não sabia»
seguir o risco ao meio entre uma porta
seguir o risco ao meio entre uma porta
e outra a vida, repetir
os passos à luz
apagada, aprender a
domar a constância
de sofrer e a falta de
opção de crescer;
se é desconjunta a
formosura apascentada
na cabeça, recusa clemência
a curta
estatura, sobe a voz a
encorpar a altura.
Vem por acréscimo a
conquista da casa
quando se domina o
vernáculo do lugar
ar do tempo: manual para
se estar
a cagar, luta de classes,
pornografia q. b.
e outras prospeções e
sortilégios
que «só a mim afetam e
confrangem».
Corpo indiscorrível,
labirinto de alçapões.
fachada
O que nos encolhem as birras dos maiores:
tinha vinte e cinco anos
no sessenta e oito —
o mesmo número da porta
onde «no patamar
as esporas do pai» e a
janela cosida
por um cristo redondo. Diria:
«Estou sentado virado
para a parede desta casa»
diria: «baixo, mais
baixo ainda, aguardar
mais aguardar nada», a
prece
uma caução para vedar o
pânico —
um tapume a rechaçar a
avenida
e tantos indomináveis
obstáculos
para o norte, o mar,
pernambuco, as formas
opulentas do amor
extremo, o inexplicável
volte-face do atropelo,
a carroça
da tragédia, o destino
órfão enfermo.
Entalar pois a porta ao
mundo, povoar
a casa de prolongamento e fundo
como «centopeia
amputada»
contra o corpo couraça
de chagas
infinitas: a casa ermida
peregrina
encenada à altura de uma
vida.
[as citações são retiradas de sublinhados de livros alheios e escritos autógrafos nesta casa:]
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