Sunday, May 26, 2019

[na cabeça do sonho - em véspera eleitoral]

Desta vez eu estava no júri. A candidata era minha amiga. A tese era fraca e fora entregue à revelia da orientadora. Eu devia ter avisado ambas. Metia lamechices na primeira pessoa sobre a vida sentimental dos tradutores. A primeira arguente era uma víbora e queria chamar a polícia do estilo. O segundo era daqueles que só mordem os mais pequenos. Depois as provas já tinham acabado, eu não sabia que posição tomara e ninguém me dizia o resultado. A candidata deixara um papel para ser assinado por quem se disponibilizasse para ser indicado como sua referência. As palavras não chegam para a angústia. A caligrafia mareava-me. Sei bem por entre o quê vacilava: a justiça do mérito absoluto e o rácio entre o potencial de dedicação e sufoco da candidata, enquanto ignorava quer o seu grau quer o efetivo bullying que podia ter sofrido pelos eruditos anteriores. Combinava-se também um jantar com Viriato Soromenho Marques, o que era simpático, mas havia um certo ambiente de golpe palaciano que me suscitava, num misto de fascínio e desistência, a morbidez.

Podia haver uma epígrafe, como aquela frase de Maria de Lurdes Pintasilgo que diz mais ou menos que a corrupção começa quando cedemos ao enfrentamento do inevitável.

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