A psiquiatra condoía-se de ti e chamava camelo ao
teu marido sem o conhecer.
A psiquiatra trabalhava num hospital público e
atendia os telefones.
A psiquiatra dava ares de ter sido agarrada.
A psiquiatra priorizava os clientes de quem gostava
e vinha para a sala de espera ver o desporto. Na testosterona dos penaltis,
confidenciava que tinha tido dois irmãos com sida, mortos pelos seus pais com
abusos físicos, fome e claustrofobia.
A psiquiatra nunca mais lhes falara. Nessa altura
trabalhava em publicidade.
A rececionista gostava de crianças, atirava-lhes
bolas e fazia com que elas começassem a andar mais cedo.
A psiquiatra apanhava-te a fazer versos contigo.
Disfarçavas, sem jeito interrompias. No próximo canto eram as ruínas.
A psiquiatra condoía-se só de ti e chamava coninhas
ao seu cliente anterior.
A rececionista apreciava que contasses cobras e
lagartos às tuas crianças.
A rececionista borrifava-te as pupilas com um
lança-perfume de que saía um sopro de ar como no oftalmologista.
A psiquiatra arranhava-te as pálpebras com uma
mini-gadanha de ferro feita com o esqueleto duma caixa de música. A sensação
era extraordinária. Os gadgets adaptados a novas funções tinham sido
recolhidos pela rececionista nos saldos duma garagem demolida.
A psiquiatra prescrevia-te vapores de aguarrás para
depois da série de raspagens ao que te matava e usava para isso a expressão
“fumar uma broca”.
Incentivava-te a toma regular em vez de a
perseguires.
* A interpretação dos sonhos é uma competência transversal.
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