Thursday, October 08, 2020

Erva-de-bruxa

Uma coisa 

malvinda aparece no mundo

a clamar desordem, desordem –

 

Se me odeias assim tanto

não te incomodes a dar-me

nome: ou precisas

de mais um insulto 

na tua língua, outra

forma de culpabilizar

uma tribo por tudo –

 

como sabemos ambos,

quando se adora

um deus, é só preciso

Um inimigo –

 

Eu não sou o inimigo.

Apenas um esquema para tapar

o que vês a acontecer

aqui nesta cama de terra,

um pequeno paradigma

de falhar. Uma das tuas flores preciosas

morre aqui quase todos os dias

e tu não vais descansar até

atacares a causa, ou seja

tudo o que restar, tudo

o que por acaso vinga

mais do que a tua paixão pessoal —

 

Não era seu destino

durar para sempre no mundo real.

Mas para quê admiti-lo, se podes continuar 

a fazer o que sempre fazes,

a carpir e a culpabilizar,

as duas coisas sempre juntas.


Eu não preciso dos teus elogios

para sobreviver. Já aqui estava antes

de cá chegares, antes de alguma vez

teres plantado um jardim.

E aqui estarei quando só o sol e a lua

restarem, e o mar, e o campo aberto.

 

Eu formarei o campo.


      Louise Glück (viva!)

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