Monday, October 12, 2020

Trabalhar sem Esperança

 S. T. Coleridge

Versos compostos a 21 de fevereiro de 1827


Dir-se-ia a natureza toda trabalhar: espreitam da toca 

As lesmas, zumbem as abelhas, esvoaçam aves no ar, 

E o Inverno, fazendo a sesta a campo aberto,

A fronte radiosa exibe, sonhando a Primavera! 

Sou eu, no entretanto, a única coisa ociosa

Que não faz mel, nem poda, nem constrói, nem canta.

 

Porém, sei bem dos bancos onde sopram amarantos,

Sondei a fonte de onde fluem rios de néctar. 

Ó folhosos amarantos, por quem brotais, 

Se por mim não floresceis? Correis, ribeiros abundantes, 

Longe de mim. De lívidos lábios, cabeça sem coroa, 

Me passeio: e sabeis que pena a alma me atordoa?

Trabalhar sem esperança é peneira que reduz o néctar. 

E a esperança sem objeto não vive nem produz. 

No comments:

Blog Archive

Contributors