[as letras desta mulher dão-me a mesma emoção de Paul Celan; mas neste caso, putas de lyrics, devem ser as letras + voz e música, ou o fenómeno do cantado não sustentar a letra de forma; experimentam-se liberdades—poucas, e hesitações—muitas]
Nunca me casarei meu amor:
Morrerei à espera das badaladas.
Anda, morte, levanta-me da água,
Do Inferno já não temo nada.
Nasci no dia em que o ano era novo.
Nasci com um dom no ouvido.
Alguém roubou toda a água.
Guardo na urna os comprimidos.
Senhor, mostra-me a minha filha,
Como era sem ter ardido.
Damos passeios pelos corredores.
Às vezes ouve-se tocar uma ária,
Às vezes pendemos dos quartos
Para entardecer à Baudelaire.
A rosa amarela é forasteira,
O convite do diabo coroado.
Ponho-me a olhar o meu quarto:
A tralha no chão em volta,
A faca preparando o massacre,
A Virgem pendurada na porta.
Aproximo-me da fronteira da morte
A reclamar a capa que Deus me rasgou.
Estou com o bebé junto ao rio
Para onde o pai salta de imediato:
Segura-lhe a cabeça sobre a água,
Tão pálida contra o regato.
Sou cavalo em que monta a filha desse pai.
Ele é a montanha que está por baixo.
1 comment:
Excelente.
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