Monday, November 02, 2020

#staythefuckhome


Dizem que se pega

de boca em boca

se a menos de dois metros

e há quem atire para mais;

que resiste até cinco dias 

nos metais: maçanetas, corrimões

moedas—passamos

o cartão sem contacto

e borrifamos nisso a toda a hora.

 

Untam-se as mãos com a solução

do álcool, tapam-se os buracos

da cara, menos os olhos que

custa e tudo o que se compra

se esfrega.

Eles dizem que não chega.

 

Que os velhos há que protegê-los.

Que prolongar a vida vale mais que a solidão.

Que há concelhos amarelos.

Que estender a vida vale mais que a liberdade

 

de mão beijada

que o mal é temporário e o plano também

que passa se lhe dermos importância

e acatarmos um bocado

mas a pergunta é será

que há outro programa para o futuro

se não cumprir o programa 

quando muito carregados de esperanças?

 

Eles dizem que não chega

que somos irresponsáveis

que devemos ter uma aplicação

mais regrada.

Que a saúde pede toda

a vigilância que só assim

se equilibra a balança

com os gastos do Natal.

 

Mas a pergunta é será

que vem de dentro o mal—

nem foram eles que disseram:

Fiquem em casa, porra! primeiro

fomos nós pressurosos de medo

trocando espontaneamente o aberto

 

pelo aperto, seguros que era bom

e dispensava com vantagem 

um Vai prá tua terra! mais sectário—

ao menos aqui é cada um no seu canto

ordinário, quando muito carregados

de esperanças de que a propriedade

privada nos encha de saúde 

e a morte não ligue à urbanidade.

No comments:

Blog Archive

Contributors