Eduardo Pitta é, quanto mais não seja pela regularidade com que dialoga connosco, o grande responsável pelo sucesso do blog da literatura. Dispõe, com generosidade, do seu tempo e capacidade de reflexão, para partilhar connosco os seus exercícios críticos num espaço que é, pelo menos teoricamente, de livre acesso e que possibilita réplicas e tréplicas ilimitadas. Enquanto crítico, tem também o mérito de se esforçar pela transparência. Em termos de afinidades electivas, por exemplo, deixa-nos saber, por vários meios, onde se situa e os seus “inner circles”, sem se fechar aos que não são propriamente do seu âmbito, antes mostrando curiosidade para se intersectar com eles. Mais do que isso, o Eduardo Pitta tem uma intervenção cívica com espinha dorsal.
É por isso que estranho a sua última prestação no debate sobre a crítica literária. Pitta levanta a questão da capacidade de inter-relação da crítica literária com o “vasto mundo”. Sugere, nomeadamente, que a recensão e divulgação de obras ensaísticas, como O Choque das Civilizações, de Huntington, deviam ser implementadas a bem de uma reflexão sobre a presente “insânia” da violência à volta dos cartoons de Maomé. Acontece que Pitta é um agente do meio sobre que vem opinar. Dos nossos três suplementos literários mais divulgados, encontro colaborações suas pelo menos em dois. E por que é que ele não pode propor recensões das obras ensaísticas que julga tão imprescindíveis? Porque as suas competências estão delimitadas? Por quem? Afinal, quem são os decisores de como se faz crítica literária em Portugal, e por que parâmetros se regem?
P. S. Para uma desopilação cómica sobre matéria análoga, este post.
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4 comments:
Cara Dama, começo por agradecer as suas palavras. Tentando responder às questões que levanta, diria que as «perguntas» do meu post são, de facto, afirmações retóricas. Em poucas palavras: os suplementos têm pouco espaço, há «exigências» de mercado, a tradição do debate é praticamente inexistente, os autores com grande visibilidade fingem-se de mortos em todas as questões relevantes da sociedade (Lobo Antunes é o paradigma), o nosso jornalismo literário restringe-se ao alinhamento de resenhas críticas, raríssimamente «abrindo» para temas da actualidade (ocupação do Iraque, deriva fundamentalista do Irão, conflito palestino, etc.) e, sim, os «decisores», como lhes chama, são ciosos da sua esfera de acção.
Obrigada e bem-vindo.
Mas, mesmo que dificilmente os suplementos consagrem um "dossier" a qualquer tema da actualidade, gostava de saber se o Eduardo pode ou não, dentro das competências que lhe são dadas ou reconhecidas, sugerir uma recensão sobre um ensaio que ache relacionado com temas quentes. E se isso pode, ou deve, mudar alguma coisa.
Pedras aqui só quartzo verde, para fígado e dentes.
Beijinhos tb, amigo urtigão. Mas não me fiz entender: nós aqui não temos pedras antropónimas. Mais nem a ferros digo...
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