Pois mesmo que não tenha nada a ver, eu aproveito as interjeições finais do poema da Anne à Sylvia para pespegar aqui com um soneto decalcado à noite, a partir do "Sermão de Nossa Senhora do O", do Padre António Vieira em 1640 (estás a ver alfinete, eu faço discriminação positiva de gajos). A pintura, mais uma vez com uma definição que só à lupa, é de Pierre Crouzet sobre foto de Bettina Rheims.
"Faemina circundabit virum."
Jer 31:22
Sendo Ele o objecto do anelo
e o meu colo o sujeito que anelava,
em mim logrou a forma que buscava
e logo anel formou para contê-lo.
E a roda do tempo em mim se trava,
em mim se imprime e grava o eterno selo,
pois todo o meu Amado eu desejava,
estendendo minha pele para acolhê-lo;
Em mim Ele se move e tem repouso
e Ele é o varão, eu a donzela,
e Ele está em mim e eu estou n’Ele
e este é o mistério mais gozoso,
ser Ele a pedra dura que por dentro
circula e mergulha no meu centro.
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2 comments:
:);)
Ai, menina, que blasfémia.
Um Vieira quase pornográfico!
Extraordinário.
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