Thursday, March 02, 2006
querida Sylvia Plath ainda um dia havia de escrever
sobre ti coleccionei-te semelhei-te ou pelo menos conheci
o tipo fisguei-te logo na fotografia de jovem pin-up
provocadora álacre que (se acaso te aludiam
ao que serias na vida) com graça respondias
serei poeta e célebre não quero ser serei
como se dizer fosse já concretizá-lo como
se a promessa dada da palavra não pudesse
reconsiderar. engano.
a procura quotidiana do assombro regulado
por depressões intercalares matinais
despertadores sacudindo o sono o mal
disfarçado prazer da rotina seguido
de aperitivo servido com mordomias de mulher
maravilha fada do lar arguta companheira
e depois tardes inteiras invocando em vão as parcas
economias da poesia
e depois súbitas ganas de violência sanguínea
e depois nada paralisia.
ó a cósmica angústia que grandiloquente
substituías ao comezinho azedume
da fortuna literária dane-se Sylvia
francamente inútil sondar o poço
da promissora adolescente prematuramente
morta.
Impossível recuar Et pourtant dirás
recuamos sempre perseguimos só
os que vão atrás de nós os precursores
que do alto de seu cerúleo areópago
com sentencioso alvitre de poetas laureados
nos cilindram.
Ted
e Ted Ted Ted Ted Ted Ted Ted
o enigma que dizem as más línguas
terá depurado a arte de que serias exímia
até um dia teres deixado de ensaiar
Ted o esposo o amante o pródigo magnânimo
tirano intelectual sentimental necrófago
do afecto,
ou a fatal atracção dos animais que se semelham
quando o laço que caça é o olhar reprovador
do retrato ao espelho
de chofre sem apelo fulminante
de feroz voracidade a Lucidez
lucíssima senhora lázaro
dos passos da poesia pela via dolorosa
Sylvia paralítica da palavra-salto sobres-
salto.
repousa tu que estás eternamente
e viva eu cá na guerra de arco em riste
a poderosa arma esta
palavra-funda que regressa.
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2 comments:
Ena. Gostaria muito de comentar este poema. Vou tentar. Mais tarde. Obrigado.
Força. Haja ecos.
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