Sunday, August 02, 2020

De ser a natureza um fogo heraclitiano e do consolo da Ressurreição


Nuvem-fiapo, tufos de pelo, revoltos travesseiros | airosos se arvoram ala-
Meda de ar: fanfarrões do céu, galhardos gangues | são bandos, brilham desfilando,
Por chapisco a pique, por estendal de cal, | onde quer que um olmo arqueie,
Lucíreos e sombriteias de azougues | longos rendam, rompem, cerceiam.
Faceiro, o vento claro clamoroso | flagela, varre, esfrega a terra inteira
Dos vincos do passado temporal; | os regos encrostados, charcos, seca.
Soltando o lodo para o lêvedo | solo, pasta, pó, estanca, estaca
Máscaras sulcadas, humanas marcas | por labor ali aradas
E cardadas. Carburando massas,| a sarça da natureza arde
Mas debela o seu dilecto,| a chispa que mais lhe inere e é
O Homem, seu lume impresso, |seu timbre no intelecto, cessa!
Ambos estão num insondável, | tudo é treva imensurável
E submersa. Ó piedade e indig | nação! Forma humana irradiando
Errante, estilhaçada, estrela | a morte negra mancha; nem marca
Em qualquer parte disso se destaca
Mas a amplidão desbota e o tempo | nivela. Basta! A Ressurreição
Vibra, coração! O sôfrego pesar, | os tristes dias, a melancolia, vão.
Sobre meu náufrago convés acendeu-
Se foco, clarão constante. A carne | apaga, e a mortal escória
Cede ao verme residual; o louco | fogo do mundo em cinza morre:
Num repente, ao toque do trompete,
Súbito sou o que é Cristo, | porque ele foi meu semelhante, e
Este tipo, farsa, miserável caco, | bocado, lasca, imortal diamante
É imortal diamante.

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