Pois que tenho sido
eu, senão almocreve? Levo
e trago
(Paulo Quintela)
aplicava-me a avivar os colóquios dos apóstolos
com Jesus a encher o coração até à boca subir
e usava um nome que não era o meu. Trajava
como um cavaleiro do castelo e vinha ouvir
o que falava a povoação e conta-se que tirava
especial prazer no engano de perguntar por mim
se me apanhariam, entregariam ou tirariam a vida
sem consequências. Não era, senhor, total malícia
tão só que no refúgio de Wartburg à secretária
em diálogo espiritual preparando o traduzir eu
abjurava e mesmo me imaginava perjuro até
aí porquanto convinha a suspensão de existir
e a excomunhão me abaulava o embuste
do ego e permitia ser medium de só
escritura
e só a fé, allein durch den Glauben
(além doura,
grande alba) — contanto passasse o original, eu sei
(e todavia menos bem) sem sola — lá só
se prezava até aí o que media a lei, obras
letras mortas.
E tudo isso pretendia Ele
ou Jörg (ou quem és? tu?
chamas? “Ninguém”),
consertar em favor do que me contavam
— dizia também sola scriptura, mas era
em bom rigor como Deus se tentasse falar como
um povo que se entendesse (sem o reconhecer
acabaram por usá-lo) — aquele rouco vulgar
de campos, o agreste sobre a prece, o rumor
de mães, os rudes rapazes tratando com
almocreves.
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