Tempo de névoas, de caudalosos frutos,
Íntimo amigo da luz madura, amena—
Com ela conspirando a bênção, os produtos
Das videiras, cingindo o friso das empenas;
Os cachos de maçãs nas copas das casinhas
E o odre de fartura desses pomos todos
De bojo pleno, as cascas de avelã cheiinhas
De doce caroço, de que despontam brotos
E flores sem conto, escorrendo para abelhas
Que chegam a pensar que o calor não cessa
De tanto que o verão os favos lhes pincela.
Quem não te conhece a oferta do celeiro?
Qualquer forasteiro se deparou contigo
Sentado calmamente ao centro duma eira,
O vento dos cabelos debulhando o trigo;
Ou a dormir numa seara mal mondada
À brisa de papoilas, esquecida a foice
Sobre a seguinte meda em flor traçada;
Ou tal respigador, de afogueada face
Pendente, ouvindo marulhar uma levada;
Ou num lagar de cidra, o atento semblante
A aguardar que o sumo lento se decante.
Que é feito da cantante Primavera? Ora,
Deixa, tu também tens as tuas melodias, —
Enquanto as nuvens dão ao tempo turva orla
E mancham de azul-rosa o restolhar dos dias;
Então rompem em coro melgas suspirosas
Sobre os chorões dos rios, que se soerguem
Ou caem consoante o vento vive ou morre;
E ovelhas balem sobre terras montanhosas;
E arvoram grilos, e trila o pintarroxo
Rasando num vibrato hortas amuradas,
E trinfam andorinhas no céu amontoadas.
[Nota: Graças a Maria Luísa Pinheiro, tradutora de A Mitologia de Edith Hamilton, em particular do reconto do mito de Filomela, aprendi que as andorinhas trinfam e sempre achei que um dia me seria útil.]
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