Esconde-se o ouriço sob a sebe torta
E faz redondo ninho de ervas e espigueiros
Ou numa silva ou numa árvore oca
E dizem que o veem muitos caminheiros
Refocilar e encher os picos de carraças
E sair de rojo e é onde a rola molha
A asa na lama de um caniço velho
Que faz um ninho com a fruta que ele escolhe
E sob a sebe caça chatos e abrunhos
E assobia tal cigarra enquanto anda
E se enrola numa bola ou como um grunho
Se o caçam os ciganos com cães ladrando
Já os vi nos campos eles chamam-lhe um figo
Embora seja naco negro amargo e insípido
Mas quem recolhe a carne podre do respigo
E a lava enlameada e lhe chama um figo
E come o que recusa um cão de todo o jeito
Não quer saber do mau gosto nem do aspeito
Dizem que ordenham vacas que quando se deitam
Trincam-lhes as tetas e as esvaziam flácidas
Mas quem viu um pequeno tal porquinho ágil
De cabeça baixa para um cão selvagem
Co’aquela boca onde nem cabe uma vagem
Dirá que é impossível deveras improvável
E eles todavia caçam nos silvados
E cães pastores treinam-se para caçá-los
Com força lhes atiram paus e pedra bruta
E ninguém quer saber e ainda dura a luta
John Clare
Composto em 1835-7 e publicado pela primeira vez em 1935 (escrito, como tantos poemas do"poeta camponês" no Northampton County Asylum, este não tem pontuação)
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